Malú Mestrinho

Apresentação

Olá!
Este é meu blog pessoal.

Aqui pretendo comentar sobre coisas que vi, ouvi e vivi.
Gosto de escrever e às vezes sinto um impulso de compartilhar... Como não sei exatamento com quem, resolvi criar este espaço e deixar que pessoas acessem e leiam quando quiserem.
Pretendo também escrever e trocar idéias sobre a arte do canto. Mais especificamente do canto que interpreta a música chamada erudita.

Malú Mestrinho
(em julho/2010)


quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Cantorias por aí...


O ano está quase acabando. Quero lembrar aqui o que cantei, onde cantei, com quem ... e deixar registrado o que aconteceu de bom nas cantorias de 2011...

Janeiro:
Os primeiros recitais do ano foram em Brasília no 33º CIVEBRA. Cantei 2 recitais com o querido André Vidal e com Deyvison Miranda. No recital "Homenagens", fiz o ciclo "Lieder eines Fahrenden Gesellen" de G. Mahler, com o Deyvison. Cantei o solo de Cantares de Ronaldo Miranda com o Coro de câmara do festival. Foi lindo! (Há um post só sobre o CIVEBRA em janeiro).
Cartaz concerto OSMCG

Março:
Fui solista em concerto da Orquestra Sinfônica de Campo Grande, cantando "Duas canções sobre poemas de Manoel Bandeira", de Marcelo Fernandes. O próprio compositor regeu.
 
Abril:
Canto Brasileiro: na programação da Semana da Voz do Curso de Música da UFMS, fizemos um recital só de canções brasileiras, que dividi com Viviane Carvalho. Fiz algumas canções com Marcelo Fernandes e cantei com Marcus Medeiros o ciclo "Quatro canções de velório" de Eunice Katunda. Adorei cantar estas canções, que não conhecia.
O Maria Bonita também fez um mini recital na Semana da Voz.
Maria Bonita no Dia das Mães- Teatro Glauce Rocha

Maio:
O Maria Bonita cantou na programação especial do dia das mães da UFMS, no Teatro Glauce Rocha.




Junho:
Maria Bonita cantou em Três Lagoas, como convidado no encerramento de um simpósio de história da UFMS. Foi a 1ª viagem do grupo.

Maria Bonita cantando em Três Lagoas
Viagem para Três Lagoas
Julho:
Fiz recital com Marcelo Fernandes no Festival de Música Erudita de Três Lagoas.

Agosto
Eu e Marcelo  fizemos um sarau na casa dele para a equipe do Painel de regência coral da FUNARTE.
O Maria Bonita também fez uma "apresentação relâmpago" no painel.

Setembro:
Fui com Rodrigo Carvalho a Cidade de Goiás para fazer recital na abertura de um evento de extensão da UFG.
Cantei com o Marcelo Fernandes na cerimônia de comemoração dos 60 anos do CnPq.
Fui a Goiânia de novo, desta vez para o SEMPEM e Encontro de Contrabaixistas. Cantei em 3 recitais do evento. Cantei com a Sonia Ray e fiz a linda canção "Surdina" de Larena Araújo, com Marina Gonçalves e Fausto Borem.

Cartaz recital Duo Anima
Outubro:
Duo Anima - Centro Cultural UFG
Rodrigo Carvalho e eu fizemos um recital do DUO ANIMA no Centro Cultural da UFG. Foi muito bom fazer este programa com o Rodrigo.


O Maria Bonita fez um mini-recital na solenidade de abertura do ENEX (Encontro de Extensão ) da UFMS.

Novembro:
Fiz a estréia mundial de "Desencanto", para canto e orquestra, de Marcelo Fernandes, com a Orquestra Sinfônica de Campo Grande, no festival Encontro com a Música Clássica. Que responsabilidade!

Cartaz Projeto Vozes e Cordas UFMS
Vozes e Cordas: Eu e Marcelo Fernandes  fizemos com a soprano Adelia Issa o projeto "Vozes e Cordas nos campi da UFMS". Foram 11 concertos, em cidades do MS, onde há campus avançado da UFMS. Foi muito legal! Privilégio trabalhar com a Adélia. Em 4 concertos tivemos André Vidal e Marcelo Dias formando um quarteto para fazer o Romancero Gitano. Pena que não foi inteiro...

Concerto Vozes e Cordas em Campo Grande







O Maria Bonita fez um concerto sacro no Mosteiro Cisterciense de Campo Grande, cantando a Messe Basse de G. Fauré e partes do Stabat Mater de Pergolesi.
Maria Bonita - Concerto Final 2011
Flyer divulgação Maria Bonita












No final de novembro, fizemos o último concerto do Maria Bonita deste ano, na Quarta Igreja Batista de Campo Grande (a minha igreja). Foi muito importante por ter sido o 1º concerto de uma hora do grupo. Foi um bom encerramento das atividades canoras do ano...

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Workshop CANTO BARROCO

O projeto de extensão Oficina de Ópera da UFMS realiza o Workshop Canto Barroco, de 14 a 16 de novembro, no Curso de Música da UFMS (unidade 08 do campus de Campo Grande). O evento conta com os professores:
André Vidal - cantor especializado em interpretação de música antiga (renascença e barroco) pela Royal Academy de Londres

Deyvison Miranda - um dos mais prestigiados correpetidores do Brasil

Eles ministrarão master classes e apresentarão recital de canto e piano voltado para o repertório barroco.

Os alunos do projeto Oficina de Ópera da UFMS participarão do recital de alunos, interpretando árias e duetos da ópera "La Serva Padrona", de G. B. Pergolesi.

Público alvo:  cantores e estudantes de canto erudito; pianistas e estudantes de piano interessados em correpetição; estudantes de música em geral.


Modalidades de participação:

- Participante: para quem deseja cantar/tocar nas master classes, recebendo orientação dos professores convidados (investimento R$ 25,00). Vagas limitadas.


- Ouvintes: para apenas assistir às masterclasses e recitais (investimento R$ 15,00).

PROGRAMAÇÃO:


14/11
15/11
16/11
14h
Recepção/Inscrições
14h – 18h
Master class de canto
Prof. André Vidal
14h – 18h
Master class de correpetição
Prof. Deyvison Miranda
15h – 18h
Master class de canto  Prof. André vidal
20h
Recital - André Vidal  & Deyvison Miranda
19h
Recital – árias e duetos de “La serva padrona” de Pergolesi











PARTICIPE!!!       DIVULGUE!!!

Mais informações e inscrições: oficinadeoperaufms@gmail.com

domingo, 9 de outubro de 2011

Sobre violão...




Marcelo Fernandes e Rodrigo Carvalho, meus amigos violonistas
Perguntaram-me esta semana porque no meu status do gmail está escrito: "Eu amo violão erudito". Resolvi publicar a explicação aqui. Há poucos dias percebi o quanto a sonoridade do violão acústico, tocando música erudita é significativa para mim. Em meio há tanta poluição sonora e "ruídos musicais", o som do violão é como um bálsamo para meus ouvidos. Isto ficou claro na seguinte experiência:

Dirigindo, estava ouvindo um CD no carro, mas tudo soava "barulhento"! Sons amplificados, bateria, teclado imitando cordas (ECA!!!) nada agradava... (às vezes, meu ouvido fica mais chato e crítico do que o normal...). Mudava de faixa e não gostava de nada. Então, mudei o CD e a 1ª coisa que tocou no outro foi o prelúdio nº 1 de Villa-Lobos, para violão solo. Eu não esperava, pois era o um CD de canções! Foi como se tudo se transformasse à minha volta. O sol se abriu por detrás das nuvens, a angústia se foi. Meu coração se acalmou, o trânsito melhorou. Ouvir aquilo me fez lembrar que a vida vale a pena, que a boa música salva tudo. Há esperança. O som do violão acústico bem tocado, a música do Villa... que bênção!

 
Prelúdio nº 1, de Villa-Lobos, por Turíbio Santos (na falta de registro dos meus violonistas preferidos).


Tenho o privilégio de conviver e trabalhar com excelentes violonistas. É um prazer ouví-los tocar e cantar com eles. É engraçado que sempre sonhei em ter um trabalho de duo com um pianista e nunca (22 anos de carreira) consegui um que durasse mais que 2 anos. Talvez, porque tenha me mudado muito... Com violão, sem querer tanto, consegui isso. Rodrigo Carvalho (UFG) formou comigo o DUO ANIMA há 7 anos. Fazer música com uma pessoa por tanto tempo redunda num nível de entrosamento, que só a convivência e muito ensaio trazem. Fizemos um recital juntos domingo passado a pudemos perceber isso. Muito bom...
Tenho trabalhado também com Marcelo Fernandes, colega no Curso de Música da UFMS. Convivemos há bem menos tempo, mas os projetos em que participamos juntos já tem produzido resultados muito positivos.

Aprendi a cantar com o violão, a moldar a voz para esta sonoridade leve e rica ao mesmo tempo. Aliás, acho que aprendi, porque sei que canto diferente com o violão (de vez em quando eles ainda reclamam que meu instrumento soa muito forte...). O violão me ensina a medir, moderar, equalisar e trabalhar timbres. Lições importantes para uma cantora...

Recomendo a todos ouvir mais violão erudito. Faz bem para os ouvidos e para a alma.

[No blog Violão Erudito pode-se baixar a obra completa de Villa-Lobos para o instrumento. ]

Amplexos musicais!

sábado, 24 de setembro de 2011

Sobre cantar...

DUO ANIMA set/2011
É bom cantar
É minha atividade preferida
É quase uma necessidade
É meu ofício e meu vício

Estudo canto. Gosto de estudar. Estudo sobre o fenômeno da voz cantada, a arte do canto e a técnica do cantar. Mas o que mais gosto é estudar canções, peças novas, ler partituras... Sinto falta, quando não tenho o que estudar para cantar! Quase enlouqueço quando (como semana passada) a voz falha. Rouquidão para o cantor é quase uma prisão. Esta semana estou feliz porque a voz voltou. E semana que vem, vou cantar uma canção nova: "Surdina" de Larena Araújo, poema de Cecília Meireles. Lindo poema, linda canção... Palco. Lugar de concretização profissional do cantar.

Ouço vozes. Ouço todo o dia pessoas cantando. Gosto de ouvir gente cantar. E quanto ouço, não consigo ouvir despretenciosamente. Tenho que prestar atenção. A voz humana me interessa, me chama a atenção, me encanta. Às vezes, me incomoda. Ouço timbres, ressonâncias, percebo nuances...
Hoje ouvi numa rádio online a ópera Faust de C. Gounod. Vozes lindas, música transcendente... Gosto de ouvir cantores bons. E gosto de ouvir meus alunos cantando.

Ensino a cantar. Gosto muito de ensinar canto. É bom ver os alunos se tornando cantores, desenvolvendo sua voz como um instrumento, aprendendo a dominá-la e usá-la melhor. Aprendo com eles. Ensinando, aprendo  a cantar melhor.

E sigo cantando, ouvindo cantos e ensinando a cantar. É meu trabalho. E não é fácil (por mais que alguns pensem que é...). Mas envolve uma boa parcela de gratificação pessoal.
Agradeço a Deus o privilégio de trabalhar com o que gosto!
É muito bom cantar...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Sobre o professor de canto ...

[Texto inspirado pela morte de Neide Thomas.]

Construir um instrumento dentro de uma pessoa. Ensiná-la a tocar este instrumento, que é ela própria. Envolve muito mais do que técnica e muito mais do que metodologia. Envolve sensibilidade e psicologia. Tem que saber ouvir a voz, o timbre e o coração. Tem que saber escutar o aluno, seu som, sua respiração e suas angústias...
E quando ele rejeita a própria voz, saber que a rejeição não é à voz, mas a ele mesmo. Saber que ele vai precisar primeiro se aceitar, para depois aceitar a voz que tem e deixá-la fluir

Talvez haja o dia em que o aluno nem consiga cantar. E o professor pensa: "o que ele veio fazer aqui, então?" Mas tem que ouví-lo assim mesmo. Ouvir suas dúvidas, sua dor, sua revolta... A sala de aula vira então um divã. E o professor um amigo e conselheiro.
[Nas salas de canto da Escola de  Música de Brasília existem divãs, destinados aos exercícios de respiração. Sempre brincávamos que eles serviam também para a outra função mais comum...]
 A voz é ligada à alma e influenciada pelos sentimentos. Cantar é um exercício do espírito humano, não só do aparelho fonador. Por isso, cuidar só da técnica, não forma um cantor integralmente.

Professor de canto fica nervoso junto com o aluno no recital. A mãos suam, como se ele próprio fosse cantar! E sofre quando o aluno erra, desafina ou não canta tão bem quanto na sala de aula. O que acontece quase sempre. Porque a sala de aula de canto é como em casa. A ressonância fica mais fácil, por que ficamos à vontade.

Oficialmente, o professor de canto ensina técnica vocal e interpretação de repertório. Na realidade, ensina isso e... música, solfejo, pronúncia, dicção, postura, etiqueta, línguas estrangeiras, história da música, ópera, música de câmara, fonética, análise literária, tradução de texto, formação de personagem, interpretação dramática, expressão corporal, ética profissional, etc...
Além de aconselhar, consolar, ajudar, dar carona, dividir lanchinhos...

Professor de canto compartilha com o aluno momentos de busca por algo intangível. Momentos de gratificação pessoal, por realizar algo singular: expressar-se artisticamente, através de um instrumento que está dentro da pessoa. Que é ela mesma. A sua voz...

Quando Zuinglio Faustini morreu, me senti meio orfã... E eu já não tinha aulas com ele há mais de 5 anos.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Três momentos, uma canção...

O sobreCanto completa um ano, exatamente hoje. Buscando um assunto para escrever, resolvi mencionar 3  momentos que vivenciei nesta semana de formatura da turma 2011 do Curso de Música da UFMS. 3 momentos e uma canção, que me comoveram, me fizeram pensar.

 1º momento: no culto em ação de graças pela formatura, um pastor, pai de uma formanda, mencionou uma folha em branco. A nova folha do músico formal, músico formado, professor de música oficial. E o que cada formando escreveria nesta folha? Como honrar a benção que Deus deu de estudar, aprender e se formar? Trabalhando bem? Procurando melhorar a cada dia? Dividindo o conhecimento? Ensinando? Há muitas formas... E a questão serve para todos nós músicos, professores de música. Cada novo semestre (ou até cada dia) pode ser uma nova folha em branco. Um semestre se inicia agora e eu me faço esta pergunta...

Mario de Andrade e Marcus Medeiros
2º momento: o discurso do paraninfo - Prof. Marcus Medeiros - fez eco à pergunta do pastor. Ele não pode estar presente, mas suas palavras lá estavam, representando seu carinho e cuidado com seus (agora já ex) alunos. Citando "A oração do paraninfo" de Mario de Andrade, desafiou cada formando a tomar seu lugar na sociedade, fazendo da música um instrumento de mudança. Andrade ansiava pela "oficialização do ensino musical" no Brasil e agora ela existe. Será que isso fará diferença? Hoje, procurei o texto de Andrade para ler e uma frase poética chamou-me a atenção:   
 "Há sempre uma aurora para qualquer noite,
E essa aurora sois vós.
E pois que a noite ainda é profunda e vai em meio,
Eu vos convido a forçar a entrada da manhã."

 
3º momento: antes da formatura, estive no Festival de Música de Três Lagoas/MS (excelente iniciativa e trabalho da prefeitura). É estarrecedor como o povo no interior deste estado é carente da boa música. A maioria só tem acesso à sub-música, massiva, comercial, tão simples que nada acrescenta. Percebi na reação das pessoas o quanto o pouco contato que tiveram - uma oficina, um concerto - foi significante. E o quanto gostariam de ter mais... Campo Grande tem pouca tradição de música formal e o curso de música da UFMS se ressente disso. Sempre criticamos a falta de estrutura e lamentamos ser apenas uma licenciatura e não haver o bacharelado. Mas, no interior a carência é tão maior! O fato de este ser o único curso superior de música do estado dá a nós - professores, alunos e egressos - uma enorme responsabilidade...



A canção: ao final da cerimônia de colação de grau os formandos surpreenderam fazendo música! E o melhor: cantando. Melhor ainda: cantaram a capela! Fizeram de suas vozes instrumentos e cantaram uma canção, cuja poesia diz muito sobre nós músicos. Que feliz idéia, fazer da turma um coro e como foi lindo... Não sei se cada formando percebeu a força destas palavras que dizem que nossa profissão vive de casar os momentos às canções. Hoje no sobreCanto, caso esta canção aos 3 momentos. Na essência, eles têm muito em comum...

Há canções e há momentos
Eu não sei como explicar
Em que a voz é um instrumento
Que eu não posso controlar
Ela vai ao infinito
Ela amarra todos nós
E é um só sentimento
Na platéia e na voz

Há canções e há momentos
Em que a voz vem da raiz
Eu não sei se quando triste
Ou se quando sou feliz
Eu só sei que há momentos
Que se casa com canção
De fazer tal casamento
Vive a minha profissão
(Canções e Momentos, de Milton Nascimento e Fernando Brant)
 

domingo, 17 de julho de 2011

Alberto Nepomuceno, você conhece?

Recebi ontem um recado - melhor dizendo, uma tarefa a cumprir - através do facebook, que dizia: "Malu, divulgue esse trabalho, tá? O Brasil precisa conhecer o Alberto Nepomuceno." O pedido me surpreendeu e inquietou. A surpresa foi por vir de uma pessoa que eu não conhecia: Olga Gomes de Paiva (já somos "amigas" pelo facebook agora). A inquietação veio por causa da 2ª frase: "O Brasil precisa conhecer o Alberto Nepomuceno."
Alberto Nepomuceno

Fiquei incomodada porque, para mim, Alberto Nepomuceno (1864-1920) está entre os mais conhecidos compositores eruditos brasileiros. Lembro que, quando comecei a me interessar por canção brasileira, suas canções foram das primeiras a que tive acesso. 
[Uma das maiores dificuldades que o estudante de música/canto enfrenta é conseguir acesso às partituras dos nossos compositores. Queremos estudá-las, cantá-las (ou tocá-las), mas como, sem as partituras? Poucas obras foram editadas e as que foram, onde estão? O estudante tem que se bater em acervos de bibliotecas, colecionadores, professores, livrarias, sebos para descobrir uma escassa oferta. As canções de Nepomuceno, no entanto, são encontradas com relativa facilidade, principalmente depois da edição de "Canções para voz e piano", de Dante Pignatari, pela EDUSP (http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=768205&sid=87232131413531464548457232)
Olga tem razão e me chamou atenção para o fato de que o resto do Brasil - como diz meu colega Marcelo Fernandes: "as pessoas que andam nas ruas" - precisa conhecer Nepomuceno e sua obra. Assim como deve conhecer  a obra de vários outros compositores. Alguns que nem nos conservatórios e escolas de música são conhecidos. Isso me incomoda e me convence do quanto é urgente e necessário o aumento da pesquisa em música erudita brasileira. Mais urgente ainda é que se faça a música erudita brasileira, que os estudantes e profissionais as estudem, interpretem, cantem e toquem. 
O trabalho ao qual se refere o recado é um documentário sobre Alberto Nepomuceno, que está disponível no youtube (links abaixo). Assisti atentamente, sorvendo cada detalhe, por ser assunto do meu mais profundo interesse. Postei no meu perfil no facebook ainda ontem, atendendo ao pedido e faço o mesmo aqui, agora. 
Obrigada Olga, pelo alerta. Parabéns pelo excelente trabalho de pesquisa e divulgação que vocês estão fazendo! Leitores do sobreCanto, assistam e conheçam um pouco mais: 

Alberto Nepomuceno - Vida, música e nacionalismo- 1ª parte:

Alberto Nepomuceno - Vida, música e nacionalismo - 2ª parte.

Alberto Nepomuceno - Vida, música e nacionalismo- 3ª parte:

 

sábado, 16 de julho de 2011

10 Filmes sobre canto

Férias
Ou recesso...
Enfim um tempinho sobrando.
Bom para ver um filme. Como o blog é sobreCanto, sugiro aqui os meus favoritos FILMES SOBRE CANTO. Adoro a sétima arte. Sempre sugiro estes aos alunos. É uma maneira de aliar diversão e aprendizado. Alguns são filmes de arte ("cults") claro... mas todos muito bons, eu garanto.

Passem numa boa locadora e bom filme!


1 - Encontro com Vênus (Meeting Venus - 1991). Com a fantástica Glenn Close, a trama se passa numa montagem de Tanhäuser, com muita intriga e uma greve no teatro. A voz da soprano é de Kiri Te Kanawa. Só isso, já é uma referência.
2 - O mestre da música (Le maître de musique -1988). Sobre um professor que prepara seus alunos para um concurso de canto. Tem o cantor Jose van Dam no papel principal.
3 - Um canto de esperança (Paradise road - 1997). De novo com Glenn Close, sobre um grupo feminino a capella, que se forma num campo de concentração.
4 - Farinelli (1994), do mesmo diretor de "O mestre da música". Conta a vida de um castrato, romanceada (diferente do que era na realidade) mas é um bom filme, com boa música barroca.
5 - E la nave va (1983), de Fellini. Um navio com cantores, leva as cinzas de uma grande diva.
6 - A Voz do Coração (Les choristes - 2004). Sobre um coro de meninos numa escola no interior da França. A música é cantada pelo "Petits Chanteurs de Saint-Marc" e o papel principal é feito por um dos solistas do próprio coro.
7 - Todas as manhãs do mundo (Tous le matin du monde - 1991). É mais sobre viola da gamba do que sobre canto (rs...) mas, na realidade é sobre música e porque fazê-la. Maravilhoso...
8 - Mudança de hábito (Syster habit - 1992). Uma comédia, que ninguém é de ferro. O "2 " do ano seguinte também é muito bom...
9 - Adeus minha concubina (1993) - apesar de ser sobre musica/ópera não ocidental, fala sobre a relação do cantor com a sua arte.
10 - Amadeus (1984) - tem muito canto, apesar de ser sobre Mozart e sua música. É ótimo para entender como eram as relações artísticas no classicismo. Mas, pelo amor de Deus, Salieri não matou Mozart, ok? ... rs


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Obs: para quem gostou desta lista, agora, em outubro de 2019), fiz uma nova lista com mais 10 filmes! Acesse e confira: Mais 10 filmes sobre canto (sobre música)


Cantemos! 

terça-feira, 21 de junho de 2011

Tupynambá

Fui apresentada nestes dias à obra de Marcello Tupynambá, ou Fernando Lobo (1889-1953).
Não que já  não conhecesse de nome ou de ouvir uma ou duas canções (descobri que tenho uma partitura dele em meu acervo). Mas, como a maioria dos brasileiros, não tinha idéia da gradiosidade de sua obra. É pura Música Brasileira, que transcende os rótulos popular ou erudito.
Quem me apresentou foi Alexandre Dias, pianista brasiliense, aluno de Neusa França e pesquisador de música brasileira. Alexandre faz um trabalho fantástico, que tenho de longe acompanhado. Primeiro foi Ernesto Nazareth, de quem ele "desenterrou" e gravou obras raras. Depois tive notícias da parceria com Wandrei Braga, no importantíssimo resgate e futura publicação (gratuita, on-line) da obra de Chiquinha Gonzaga. 
Agora, este menino me vem com Tupynambá! Me passou gravações, partituras, informações de contexto... Resultado: me apaixonei. As canções são deliciosas e de alto nível.
Posto aqui duas gravações que Alexandre fez de canções dele (ao lado delas no youtube há mais duas).
"Maricota, sai da chuva":
"Ao som da viola":
Aqui um artigo (traduzido por Alexandre) que conta um pouco da história deste músico, brasileiro, pouco conhecido, mas admirado por Darius Milhaud, Villa-Lobos, Mario de Andrade e outros: http://daniellathompson.com/Texts/Le_Boeuf/cron.tupinamba.htm
Por último, Alexandre me apresentou a outro Marcelo Tupinambá, jornalista, neto do compositor, que escreveu dissertação de mestrado sobre o avô. Material ao qual espero também, em breve, ter acesso.
Estamos planejando trabalhar juntos em breve e quem sabe, gravar, fazer um recital... 
Fica aqui a sugestão para alunos em busca de temas para TCC.
Enfiim, Tupynambá promete!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Cantar bem em português, eis o desafio...

"... Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma, 
..."

(do poema "Lingua portuguesa", de Olavo Bilac)


Na Semana da Voz da UFMS, fizemos o recital "Canto brasileiro", no qual comentei sobre a dificuldade, que alguns cantores eruditos tem, de cantar em português. Pensar sobre isso me fez lembrar uma "historinha", que transcrevo a seguir. É fictícia, mas, com certeza algum aspecto corresponde a experiência de vários cantores:

"Canorum começou a estudar canto ainda adolescente. Começou pelos métodos tradicionais: Vaccaj, Panofka, Marchesi. E o repertório, obviamente, eram as "árias antigas italianas". Estudou várias delas e quando já estava um pouco mais adiantado, seu professor permitiu que ele passasse às canções européias: o Lied, a melodie française... Sofreu um pouco com a pronúncia do alemão e do francês, mas, nada que o ideal de ser um grande cantor, não ultrapassasse. A esta altura, já estava apaixonado pela ópera. Assistira a várias, em teatros e em vídeos. Gostava de Mozart e do Bel Canto, mas sua paixão mesmo eram as óperas românticas. Oh Verdi! Oh Puccini!... Alguns anos mais e ele já se sentia seguro com a técnica. Apareceu, então, um desafio a enfrentar: um concurso de canto. Seu professor permitiu e ele se pôs a escolher o repertório. Mas... havia uma exigência que ele não esperava: uma canção brasileira. Que coisa estranha!? E agora? Ja estudava canto há vários anos, mas nunca tinha cantado canção brasileira. Nem sabia que isso fazia parte do repertório do canto erudito! Achou no acervo de seu professor uma pasta surrada com algumas partituras de canções brasileiras. Escolheu uma bem caraterística e começou a estudar. Mas, percebeu que os fonemas da sua própria língua natal pareciam mais difíceis de encaixar na sua "bela impostação lírica" do que os fonemas alemães e franceses. Como era difícil cantar em português! As vogais brasileiras tiravam a profundidade do sua tão arduamente trabalhada e conquistada ressonância. Parecia mesmo que a técnica do canto erudito fora feita para as línguas tradicionais da ópera e não para cantar em português. Canorum, obviamente, não foi muito bem na prova do canto brasileiro."

Como evitar este impasse?...
Trabalhando canções brasileiras desde o início do estudo de canto erudito. Modinhas e canções brasileiras, nacionalistas, românticas e pós-românticas podem ser bem interpretadas e pronunciadas com uma boa impostação. Contanto que, desde o início, o estudante/cantor estude, pesquise e procure perceber e elaborar em seu instrumento-voz uma forma de se expressar bem em sua própria língua. Sem treino, sem trabalho, isso não será possível...

O universo da Canção Brasileira de Câmara é riquíssimo e maravilhoso. Esta parte da manifestação artística brasileira precisa ser mais estudada e interpretada. Deve encontrar lugar de destaque no repertório de todo o bom cantor brasileiro erudito.


Eu, particularmente, amo cantar no meu rude e doloroso idioma...





domingo, 27 de março de 2011

Prática musical ou educação musical?


    Este semestre, estou professora da disciplina "Prática de Ensino 2", no curso de música da UFMS. Somos poucos professores e por razões (justas ou não), que não vale a pena citar, "sobrou p'ra mim". A princípio, resisti. Minha área de interesse e atuação é a prática musical e o ensino dela. Gosto de dizer, com orgulho, que faço música na prática (o que muitos colegas, que abraçaram a lide acadêmica, infelizmente, deixaram de fazer). Sou professora também, por opção. Gosto de ensinar o que faço e o que conheço profundamente: voz, canto, técnica vocal, interpretação de repertório, etc. Apesar de ser licenciada, me dediquei muito mais à prática interpretativa do canto erudito. Por isso, voltar aos conteúdos de Educação Musical, foi "um parto". Mas, tudo na vida tem um lado bom e temos que aprender a encontrar a "bênção" em todas as situações... Depois de espernear" um pouco - "mãos à obra" - comecei a ler sobre o assunto, para preparar aulas. Encontrei muito material interessante, que tem me levado a refletir sobre este tema. 
    Tenho discutido com os alunos sobre a dificuldade de conciliar o interesse em ser um músico prático e a necessidade (pessoal e social) de ser professor. A maioria deles, quer "tocar".  Buscam o Curso de  Licenciatura em Música da UFMS, por ser o único curso superior de música no estado. Mas, poucos mostram interesse real na área do ensino musical. 
    Me indentifico com este conflito, porque eu mesma já passei por ele e concilio as duas coisas até hoje. Percebo que hoje me realizo ensinando, quase tanto quanto cantando. O contato com os alunos, o seu interesse, curiosidade e busca pelo conhecimento me contagiam e empolgam. Por isso, me sinto bem no ambiente universitário. Aliás, optei pelo ensino universitário, porque achei ser ideal para conciliar a prática musical (através da extensão) com o ensino. Não é tão fácil assim... mas vamos tentando.
    Quanto aos alunos, querendo ou não e compreendendo isto agora, ou não, terão de enfrentar a realidade do ensino musical. Seja na escola pública, atendendo à nova demanda criada pela lei que traz a música de volta ao ensino fundamental, ou nas escolas particulares, eles serão professores. No Brasil, poucos são os músicos que podem dedicar-se somente à performance. A maioria dá aulas, nem que seja apenas para ajudar a pagar as contas. Alguns alunos são "sonhadores" mais acirrados e dizem que não darão aulas de jeito nenhum! Só vão tocar... Acho lindo os sonhadores e torço para que eles estudem tanto e se tornem músicos tão bons, que possam realizar este sonho. Mas, torço também para que alguns deles se apaixonem pelo ensino. E que ensinar venha a ser não só o seu sonho, mas a sua realização. Sem deixar de fazer música na prática, ensinem outros a tocar e cantar. Estes serão, na minha opinião, os melhores professores de música.

sábado, 15 de janeiro de 2011

33º CIVEBRA

 
Mais um Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília. Bom demais estar aqui! Privilégio enorme ser professora aqui!

Música de manhã, tarde e noite. Música em todos os cantos, nas suas mais diversas formas e estilos. Instrumentos de todos os tipos tocando ao longo dos caminhos, nos corredores, pátios, em todas as salas e espaços. Orquestras, bandas, coro, pequenos e grandes conjuntos... Erudito e popular convivendo no mesmo espaço.
Gente fazendo música com seriedade, professores e alunos buscando aperfeiçoar a técnica  de seus instrumentos e a interpretação de seus repertórios.

No concerto de abertura, sentei na platéia tão feliz por estar alí! Tão grata por ter sido chamada mais uma vez! Ouvir músicos maravilhosos, tocando coisas, lindas, fantásticas, difíceis... que delícia!
No primeiro dia de aula, um convite para fazer um recital no dia seguinte! Como não aceitar?... Aceitamos, eu e André Vidal, o colega mais legal possível. Que correria! Que Loucura! Mas foi tão bom cantar! Sempre é bom...

Alunos ávidos, buscando informações, orientações, dicas, conselhos, técnica. Alunos cheios de expectativa, que nos olham, esperando tanto!...
Às vezes, nem sei se estou ajudando com informações e abordagens tão diferentes do que eles estão acostumados. Mas, tento...

Ontem cantei no Palco popular: oportunidade única de cantar coisas diferentes do meu ambiente (erudito), e com músicos tão bons! Cantei com meu filho uma canção que sempre "brincamos" de cantar juntos e ontem o fizemos "à vera".





Agora, ainda tenho pela frente o Romancero Gitano na 2ª f  e o recital dos professores de canto com os compositores homenageados, na 3ª f. Mais uma semana de trabalho intenso, com as duas coisas que mais gosto de fazer na vida: cantar e ensinar.
Privilégio...