Malú Mestrinho

Apresentação

Olá!
Este é meu blog pessoal.

Aqui pretendo comentar sobre coisas que vi, ouvi e vivi.
Gosto de escrever e às vezes sinto um impulso de compartilhar... Como não sei exatamento com quem, resolvi criar este espaço e deixar que pessoas acessem e leiam quando quiserem.
Pretendo também escrever e trocar idéias sobre a arte do canto. Mais especificamente do canto que interpreta a música chamada erudita.

Malú Mestrinho
(em julho/2010)


sábado, 23 de junho de 2012

"Dicas pra você menina bonita, que está pensando em dar seu primeiro recital

Sabe quando a gente lê um texto que queria ter escrito? Aconteceu comigo esta semana e resolvi em vez de "plagiar", pedir autorização da autora  para publicar. Aqui vão então, ótimas sugestões para jovens cantoras de como preparar um recital, por Carolina Faria:



"Repertório:
Comece pensando em três pequenas sessões de 15 min no máximo. 35 min de música + conversê + aplausos = 50 min de espetáculo. (Perfeito, porque o povo vai pedir mais (muito melhor garantir público para sua próxima apresentação, que fazer o povo fugir ao ouvir seu nome anunciado, né? Recital barroco ou de canções fúnebres inspiradas em ritos arcaicos da Patagônia de 1h45 só a misericórdia!) 

Roupas:
Use coisas que não caiam nem precisem ficar sendo ajeitadas, tipo estolas malditas de chiffon de 50 cm. Fazenda, serra, são frios à noite. Se você for cantar ao ar livre não tenha medo de ficar menos elegante por usar uma roupa mais fechadinha ou meia-calça reforçada. O vibrato precisa ser natural, não resultante do queixo batendo, de preferência (em Petrópolis uma vez dei recital com este vibrato). 

Calçados
Use um sapato bacana mas que te permita cantar 1h e receber cumprimentos por outra sem que te dê desejo de chegar em casa e jogá-lo no incinerador (eu fiz isto no recital de formatura - paguei 20 reais num salto 12 que me custou a alma!).

De cor, por favor! Caso precise da partitura não se esconda atrás dela. 

Seja gentil. As pessoas querem sim contato com o artista. Lembre-se que elas foram ao cabeleireiro, gastaram táxi e dispuseram do seu precioso tempo para lhe ver. Perda de tempo com agradecimentos e abraços não são para os fracos. Muitas vezes vamos a um recital ou concerto e ficamos tão extasiados que a única forma de expressar e retribuir a experiência que o artista nos proporcionou são um aperto de mão ou um muito obrigado, né? As pessoas podem querer exatamente esta chance com você, e você pode sim esperar mais uma horinha antes de ir pro camarim relaxar. Retribua e honre a presença do público com uma postura grata e gentil. 

Cachê não é um favor que lhe fazem. O dinheiro é fruto do seu trabalho, e precisa ser encarado com naturalidade e seriedade. 

Carolina Faria" 
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Valeu Carolina!

Conheça o trabalho da autora do texto: http://www.carolafaria.com/


Acrescento, por minha conta:

#No repertório, escolha coisas que você realmente dá conta de cantar bem e não algo que você sonha cantar. Ouça a orientação de seu professor...

#Na roupa, prefira um vestido longo (ou saia) a um curto chiquérrimo. Pouquíssimas cantoras ficam bem de pernas de fora... 

sábado, 9 de junho de 2012

Sobre canto coral

Cantata - Armando Barrios
Cantar em coro faz parte da vivência do cantor.
Como boa batista, cantei em coro desde pequena. Na igreja batista tem (ou pelo menos tinha...) o coro infantil, o coro de adolescentes, de jovens, de adultos e outros... Cresci ouvindo coro e cantando em coros. Ainda adolescente participava do coro principal das igrejas, pois ia com meus pais aos ensaios.
Depois que passei a estudar música, além de cantar, regi coros, fui pianista e preparadora vocal de vários coros.
Mas, durante algum tempo, cansei de coro. Cantei profissionalmente por vários anos em coros e isso leva a uma postura utilitária, proletária, funcional para o cantor. Perdi o encanto pelo canto coral... e pra mim, canto sem encanto não funciona. Abusei! Não queria nem ouvir falar! Lembro de me incomodar em ter que participar de eventos com coro, e não querer nem ouvir coros!

Passou... Estou curada. Acho que foi o painel de regência coral da Funarte, que trouxe Samuel Kerr e Izaíra Silvino a Campo Grande ano passado, a dose final do remédio de cura. Olhando para trás, vejo que devo muito da minha formação como cantora e musicista ao canto coral. Na verdade foi a partir de um coro que resolvi estudar música e depois canto na universidade. Foi no coral da UnB, onde cantei entre 1982 e 1984. Nelson Mathias, grande maestro coral, fazia mágica com aquele grupo de jovens inexperientes, mas cheios de vontade de fazer música cantando. Aprendi com ele sem ter aula... Com suas atitudes, palavras, gestos, com o som que ele extraia do coro. Larguei o curso de letras pelo de música e depois troquei o piano pelo canto...
O canto coral é fundamental na formação de qualquer músico. Muito mais na de uma cantor. Todo cantor deve cantar em coro. O prazer de realizar obras sinfônico-corais com orquestra, num bom coro, com um bom maestro é único. Lembro da emoção de cantar a Missa em Si m de J. S. Bach no coro da Escola de Música de Brasília, quando estudava na UnB. Maestro Gerald Kegelmann. Inesquecível! Talvez por ter sido a 1ª grande obra coral que cantei.
Mas é o canto coral a capela que mais me agrada. Vozes unidas em harmonia perfeita, sem interferência de instrumentos...
Já ouvi de alguns cantores que não cantam em coro, pois estudaram para serem solistas. Acham que cantar em coro é atividade secundária. Engano. O bom cantor tem que saber moldar seu som para cantar em grupo. Tem que saber fazer bem música de câmara e coral. Voz é instrumento e quem domina seu instrumento, tem que saber manejá-lo conforme o contexto. A relação do cantor com um coro é proporcional à de um violinista/instrumentista com uma orquestra. É onde ele desenvolve afinação, percepção, dinâmica, articulação, fraseado em conjunto. Aprende a ouvir e moldar seu som no contexto do grupo. 
Recomendo a todos que querem cantar bem e dominar seu instrumento/voz, em qualquer estilo: CANTE EM CORO!