Malú Mestrinho

Apresentação

Olá!
Este é meu blog pessoal.

Aqui pretendo comentar sobre coisas que vi, ouvi e vivi.
Gosto de escrever e às vezes sinto um impulso de compartilhar... Como não sei exatamento com quem, resolvi criar este espaço e deixar que pessoas acessem e leiam quando quiserem.
Pretendo também escrever e trocar idéias sobre a arte do canto. Mais especificamente do canto que interpreta a música chamada erudita.

Malú Mestrinho
(em julho/2010)


sábado, 15 de novembro de 2014

Pensando sobre a morte do Paulinho...


Ontem faleceu um amigo.
De repente. 
Paulo Roberto Contaifer
Era cantor, tenor, cristão.
Super alegre e brincalhão.
Amigo de juventude do meu marido 
Cantamos juntos no Coral da UnB, nos coros da Igreja Memorial Batista de Brasília e em outros lugares...

Foi um dia super corrido.
Por isso, não parei para pensar.
Mas pensei...
Como somos frágeis!
Nossa vida é um sopro.
Mesmo.

Lembrei que o pregador que ouvi domingo a noite perguntou:
"Quem quer morrer hoje?"
Eu não queria...
Fiquei pensando:
Porque não queremos?
Porque não quero estar com JESUS hoje?
Porque quero mais estar aqui com pessoas do que na Glória, com Deus?

Talvez Paulinho não quisesse também.
Mas foi, na hora que aprouve a DEUS.

Acordei hoje com uma convicção:
DEUS é soberano.
ELE é absoluto.
É o dono da nossa vida.
Não temos poder nenhum.
Dependemos dELE.
Tudo que fazemos aqui pode acabar a qualquer momento, se for plano dELE nos levar. 
Não temos escolha, opinião em relação a isso.

Então, CARPE DIEM!
É preciso mais conexão com este DEUS SOBERANO.
Porque ELE é também justiça, amor e misericórdia.
Para que o que fizermos aqui tenha ligação com o Eterno.
Com a Eternidade, onde estaremos em breve, 
Com ELE.
Se não, não serve pra nada.

A música, o canto, tem que ser pra ELE.
Para servir às pessoas, porque ELE mesmo disse que fazendo o bem aos outros, fazemos a ELE.
Mas, temos que reconhecer isso.
Porque a arte pode nos levar a pensar que somos alguma coisa.
E não somos. 
NADA!


"Que é o homem mortal para que te lembres dele? 
E o filho do homem, para que o visites? 
Pois pouco menor o fizeste do que os anjos, 
E de glória e de honra o coroaste. 
Fazes com que ele tenha domínio sobre as obras das tuas mãos; 
Tudo puseste debaixo de seus pés: 
Todas as ovelhas e bois, assim como os animais do campo, 
As aves dos céus, e os peixes do mar, 
E tudo o que passa pelas veredas dos mares. 
Ó Senhor, Senhor nosso, 
Quão admirável é o teu nome sobre toda a terra!"
(Salmos 8:4-9)

DEUS, meu SENHOR,
Quero te servir.
Quero te buscar.
Quero te louvar com a minha vida,
Enquanto vida eu tiver.
Porque continuarei a te louvar na glória.
E sei que irei para Ti, quando Tu quiseres

"Porque nós sabemos que, quando esta tenda em que agora vivemos for desfeita - quando morrermos e deixarmos este corpo - teremos um maravilhoso corpo novo no céu, 
um lar que será nosso para todo o sempre, feito para nós pelo próprio Deus,
 e não por mãos humanas."
2 Coríntios 5: 1



Até breve, Paulinho!


domingo, 9 de novembro de 2014

Chamada para cantar


Hoje tive a responsabilidade de trazer a mensagem no culto da Primeira Igreja Batista de Campina Grande, onde congrego há um ano. Tarefa difícil, porque nova. Estou acostumada a falar, mas nunca tinha assumido o púlpito num culto. Estamos no mês da música e o ministro de música, meu amigo/irmão/aluno Ulisses Azevedo, me deu esta incumbência. 
Para não me perder, escrevi o que queria falar. Escrever me ajuda a sistematizar idéias. Parte do que escrevi é um testemunho sobre como fui direcionada por Deus para o canto. É o que posto aqui. 


"Fui chamada a cantar.
Todos nós temos um chamado de DEUS. Não pense que você é exceção. Não pense que chamado é só para pastores e missionários. TODOS temos um chamado específico, para realizar alguma coisa: orar, aconselhar, criar filhos, ensinar, desenvolver uma habilidade.
Bem, eu fui chamada para a música, e para o canto. Tenho convicção disso. 
Há um tempo atrás, fazendo o curso de crescimento cristão “Conhecendo Deus e fazendo sua vontade”, fui levada a um exercício interessante: reconhecer ao longo da vida, "marcos" em lugares (momentos) importantes. Como o povo de Israel e os povos antigos faziam: deixavam marcas, colocavam pedras, pra se lembrarem: “aqui o SENHOR nos livrou”, "ali o SENHOR nos abençoou"... Marcavam momentos e lugares em que experimentaram a mão de Deus agindo. "Marcos memoriais", para não esquecer. Fomos orientados a fazer o mesmo: olhar para trás e perceber onde DEUS tinha agido de forma clara e usado pessoas (pedras vivas) para nos ensinar, orientar. E eu pude ver, perceber, como DEUS realmente me levou, desde pequena a fazer música e depois canto. 

Meu primeiro MARCO é minha família. Nasci numa família onde a música tem muito valor. Meus pais, meus tios estudaram música. Havia piano nas casas dos meus avós, tanto Mello como Mestrinho. Meu pai foi pianista e organista, tocou nas igrejas de sua juventude. Eu lembro muito de meu pai tocando piano em casa. Tocava de cor uns prelúdios e estudos românticos. Minha mãe toca até hoje. Ela não pode estudar muito formalmente, mas com o pouco que estudou, desenvolveu bastante, pois é muito musical. Regeu coros em várias igrejas e compõe hinos e canções. Toca violão, sem nunca ter estudado. Meu pai passa o dia ouvindo música de concerto. Ele gosta dos românticos. Se você chegar na casa dos meus pais, pode ter certeza, que ele está lá fazendo palavras cruzadas e ouvindo Tchaikovsky, que é seu preferido. Eu, meu irmão e meus filhos conhecemos as sinfonias de Tchaikovsky. Não sabemos diferenciar uma da outra. Se é a 4ª ou a 7ª, mas se ouvimos no rádio, ou num filme, reconhecemos quando é Tchaikovsky. De tanto ouvir, desenvolvemos um “radar”. Já aconteceu de eu e Hadassa estarmos vendo um filme e começar a tocar uma música na trilha sonora... a gente olha uma para a outra e começa a rir: é Tchaikovsky. Ele ouve outros compositores também: Chopin, Rachmaninof, Beethoven, Mahler, sempre os românticos ... Mas, o preferido é Tchaikovsky. Já minha mãe gosta do barroco. Lembro de cor alguns concertos grossos de Vivaldi, de tanto que ouvi. É uma herança maravilhosa que tenho deles: aprendi a valorizar a boa música. 

Comecei a estudar piano aos 5 anos. Tinha uma vizinha que tocava e minha mãe me colocou para fazer aula. Não tinha piano em casa. Na minha caderneta vinha escrito: “estudar na ponta da mesa”. Eu fazia os exercícios imaginando um teclado na mesa. Com 9 anos meus pais compraram um piano usado. Tocar piano foi minha atividade preferida em casa, durante anos. Adorava sentar e ler músicas novas, estudar...

O segundo "marco" foi a Primeira igreja Batista de Copacabana, onde congreguei na adolescência. Lá várias pessoas (pedras vivas) me influenciaram. Músicos que eu admirava. Minha professora de piano nesta época, Dione Pereira Vasconcelos era da igreja. Eu ia a casa dela em Copacabana fazer aulas. Ela era muito paciente, atenciosa e conversávamos muito... Ela me ensinava a tocar hinos do cantor cristão e cânticos, além das peças de piano. Pr. Bill Ichter, missionário americado que regia o coro da igreja, foi outra influência. Lembro que a 1ª vez que toquei um hino num culto, toquei muito mal. Me atrapalhei, nervosa, não consegui acompanhar a regência. Depois do culto, ele veio me elogiar. Eu sabia que não tinha tocado direito, e que não merecia o elogio. Mas, ele elogiou assim mesmo, para me incentivar. Nunca esqueci... Outra pessoa foi Rizemar Confessor. Era pianista e cantora. Cantava de um jeito estranho para nós adolescentes da igreja. Porque cantava com a voz "colocada". Eu achava lindo! Queria ser igual a ela. Os 3 foram usados por Deus como referências para mim.

O terceiro "marco" foi a UnB. Comecei a fazer o curso de Letras. Mas, Deus tinha outros planos. O Coral da UnB, regido por Nelson Mathias me fez perceber que o que eu queria fazer era música. Fiz outro vestibular, desta vez para piano. Entrei no curso de música como pianista, mas por várias razões, acabei trocando para o bacharelado em canto. Tudo plano de Deus. Nada é por acaso... Vários professores ali foram referência para mim. O ambiente universitário até hoje me encanta pela busca do conhecimento. Deus sempre me fez "voltar" para a universidade. Cada vez uma diferente e em situações diferentes... mas nunca consegui ficar longe da academia.

Zuinglio Faustini foi  "marco" em minha vida.  Meu primeiro professor de canto, com quem me formei na UnB e cuja técnica uso até hoje em minhas aulas. Viu em mim um potencial que nem eu sabia que tinha. Foi muito exigente comigo. Saí chorando da sala dele algumas vezes... Me incentivou muito. Exigiu que eu fizesse um concurso que eu achava que não estava preparada. Acabei sendo chamada para a 2ª vaga nele e assumi meu primeiro trabalho como docente, na Universidade Federal de Uberlândia. No último ano do curso, tive o prazer de cantar ao lado dele em vários concertos. Que saudade do Zuinglio!

Oportunidades de trabalho foram "marcos" significativos. Deus me deu vários  trabalhos, que foram oportunidades de aprendizado. Aprendi muito nos 3 anos que cantei no Coro Lírico do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Nenhum curso sobre ópera, ensina tanto quanto cantar num teatro de ópera...
Aprendi ensinando na UFU, UFRJ e na Escola de Música de Brasília. Aprendi com meus colegas da música antiga a cantar um estilo que apreciava, e não achava que podia cantar. Foram tantas as pessoas que marcaram minha vida na EMB.
Fica claro para mim que Deus me chamou para aprender e depois ensinar a arte do Canto Lírico. Tive vários empregos em instituições diferentes, pedi demissão de alguns. Me mudei de cidade muitas vezes. Mas, nunca me faltou trabalho. Acabei optando mais uma vez pela carreira de docente universitária.

Hoje trabalho na Universidade Federal de Campina Grande - PB, ensinando o que aprendi ao longo desta "peregrinação". Meu ministério é cantar e ensinar jovens a utilizar melhor seu instrumento-voz. Tenho certeza que foi Deus que me trouxe até aqui. Olhando para trás, posso ver estes "marcos" que Deus usou em minha vida. Todos importantes. Agradeço a Deus por cada pessoa que me influenciou e incentivou.

Sou cantora e professora de canto, totalmente realizada. Trabalho servindo ao DEUS que me chamou para cantar.
CANTEMOS!!!


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Tributo a Gaudêncio

    Hoje, quero escrever um tributo à memória do meu tio Gaudêncio Thiago de Mello (1933-2013). Era irmão da minha mãe e completaria 81 anos hoje.
  Ele era músico, compositor e multi-instrumentista. Sua música refletia quem ele era: muita alegria, muito amor, criatividade, Brasil... 
   A música foi um laço a mais, que me uniu a ele, além da família. Tive o privilégio de conviver com ele vários anos, nos Cursos Internacionais de Verão da Escola de Música de Brasília. Ele foi professor convidado deste festival em 2000, 2001, 2002 e 2004. Nestas 4 ocasiões nos encontramos, pois eu morava em Brasília. Eu 2002 e 2004 eu também fui professora do CIVEBRA e tive oportunidade de cantar em concertos com ele, interpretando suas canções. Ele morava em New York desde 1964 e trabalhava com o que ele chamava de brazilian jazz. Mas, várias de suas canções tem características do clássico, tanto que vários músicos eruditos tocam sua música, principalmente violonistas, como Carlos Barbosa Lima e Sharon Isbin. Era também um educador. Lecionou música num colégio em New York por vários anos. Era um professor super criativo. Lembro de assistir a algumas de suas aulas. Ele fazia os alunos cantarem, inventava brincadeiras com o ritmo, melodias na hora... Meus filhos o adoravam, pois era um tio muito carinhoso e brincalhão. Tinha umas expressões engraçadíssimas, que ficaram em nossa memória: "Estás louquinha espumando!", "Não façais tal!", "Vamos falar com umas e outras!" (Este era um jeito carinhoso de se referir a uma amiga querida). Tinha um jeito peculiar de falar, um português amazonense, misturado com alguns erros americanos, que ele já tinha adquirido, por morar nos EUA há tanto tempo.
   Era um profissional de excelência, músico premiado com 3 Grammy. Mas era super humilde, valorizando os iniciantes, era amável com todos.
    Mês passado, numa reunião de família e amigos, suas cinzas foram jogadas no Encontro das Águas, no Amazonas, atendendo ao desejo dele. Eu não pude estar presente. Cantei daqui naquele dia, lembrando dele e chorando um pouco, o spiritual "Deep river" e sua canção "Blue sky", que é minha preferida. Vi as imagens depois e me emocionei com a homenagem. As famílias Mitouso, Mello e Thiago de Mello estavam representadas.  Cantaram hinos que ele gostava. 
   A lembrança e o sentimento que tenho por ele é bem misturado entre o carinho de uma sobrinha, a admiração de uma fã e a relação especial entre 2 músicos que atuam juntos. Tentei ouvir um CD dele outro dia, mas eu chorava tanto, que tive que tirar... tenho que esperar um pouco. Louvo a Deus hoje pela música que Gaú deixou  aqui conosco. Agradeço a Deus pelo privilégio de ter convivido e aprendido muito com ele. Sua alegria era contagiante.

Este é o site dele, onde se pode conhecer sua trajetória profissional: http://www.thiago-amazon.com/index.html

Este vídeo foi feito em março de 2014, pelo cineasta Charles Lyons, como um tributo a ele (infelizmente não há legendas em português):


Valeu, tio Gaú! 

domingo, 13 de julho de 2014

Na estrada... com Manduka

Um pequeno rio na estrada Campina Grande/João Pessoa
Ontem dirigi ida e volta de Campina Grande a João Pessoa, para levar a filha ao aeroporto de João Pessoa (que não fica em João Pessoa, mas em Baieux, município vizinho).
Sempre gostei de viajar de carro, desde pequena. Viajei muito com meus pais e meu irmão. Curtia tudo do banco de trás. 

Esta estrada entre Campina e João Pessoa sempre me encanta. A paisagem enche os olhos, não tanto por coisas grandiosas, como os montes da Serra da Borborema, mas pelas pequenas: as casas simples, as fazendinhas, os pedaços de água, pequenas plantações, árvores...
Desta vez, dirigindo, não podia olhar muito para os detalhes, mas queria mostrar para a filha. Ela também se encantou. Que verde! Dá vontade de sair correndo pelo campo...

Na volta, sozinha, mesmo atenta à direção, era impossível não perceber a beleza do lugar.  De vez em quando, diminuía a marcha para ver um pouco melhor. E as cores saltam aos olhos: uma cesta de cajá amarelo-alaranjado-brilhante, pássaros brancos voando numa lagoa, o guarda-sol colorido de uma moça no campo, uma igrejinha branca. Agradeci a Deus por estar ali, por morar por aqui. E ficava imaginando as fotos que um dia minha amiga Norma Sueli vai tirar nesta estrada...

Tive a companhia da música de Manduka nesta viagem. Quando será que conseguirei ouvir este CD sem chorar? Dirigi, curtindo a paisagem (no que era possível) e cantando com o CD. "Por isso somos quem somos, estrelas de um só momento, mas cujo brilho ameaça a ordem do firmamento."; "As laranjas do vizinho estão maduras". A ordem, difícil de memorizar, das ervas do banho de cheiro da "Cunhatã dourada". O samba da Jandira que tinha o corpo da cor de goiaba. "Não fala com essa dona, que essa dona é louca." E a linda música da pátria, que sonho cantar um dia com meu filho.
Não posso discernir o quanto estas músicas são fantásticas do significado afetivo que tem para mim. Eu as ouvia em vinil na adolescência em casa, com meu irmão. Ouvi o próprio primo Manduka tocar e cantar nas reuniões de família. Se fecho os olhos, posso vê-lo cantando, sorrindo... Agora só ouço sua voz no CD.
Reli recentemente o livro da minha avó materna Maria Mitouso de Mello, "Um pouco da minha vida". E as lembranças da família afloraram intensamente. Lembranças de coisas que nem vi, mas que sei de ouvir contar tantas vezes, por minha mãe, pelas tias e pela própria avó, que é como se eu tivesse participado. A música de Manduka se juntou à nostalgia causada pelo livro e toda a subjetividade de pertencer à família extremamente musical Mitouso de Mello tomou uma dimensão enorme. E me fez  perceber como estamos ligados – eu, meu tio Gaudêncio (sobre quem tenho um texto rascunhado), Manduka e outros músicos da família. Como somos frutos das modinhas e hinos que minha avó cantava, acompanhada ao violão pelo vovô Thiago. E da musicalidade amazonense, da poesia do (tio Amadeu) Thiago de Mello. Por isso tudo somos quem somos! Família é atávico... Aprendi isso com a Tia Ritinha, outra musicista da família.
Agradeci a Deus pela família Mitouso de Mello, pelos Thiago de Mello. Por minha avó, que nos deixou um legado lindo. E pela música que herdei de todos eles.

Combinei com a filha de fazer esta viagem parando em cada lugar bonito. Levará horas. Mas, a paisagem merece.

Segue a canção "Patria amada idolatrada" de Manduka. Uma canção de exílio. É uma das minha preferidas. (Há outros vídeos dele no Youtube. Jandira, por exemplo, está lá).



quinta-feira, 17 de abril de 2014

O canto que quero

Quero o canto livre
Quero o canto verdadeiro
Quero cantar com sinceridade
E repartir meu canto com quem precisa e quer ouvir

Quero viver o que canto
Quero cantar o que vivo (*)
Quero o meu canto limpo
Mesmo que não seja perfeito
Perfeito será no céu, quando a alma liberta cantará o canto novo e eterno

Quero o canto suave,
Como o murmúrio das águas ao pé do salgueiro (da canção de Fauré)
Que nunca ouvi com o ouvido
Mas canto, ouvindo no coração

Quero o canto dos pássaros invadindo o meu dia 
E me chamando a cantar
Quero cantar com emoção
Mas quero cantar sem chorar

Quero que meu canto seja instrumento da música que há em meu peito
Quero cantar com força
Enquanto força tiver

Quero cantar baixinho uma canção de ninar
Que faça acalmar o choro da criança angustiada

Quero o canto da paz
Quero o canto da alegria
Quero cantar todo dia
A canção do amor e da vida 

Quero o canto simples 
Que seja entendido por todos
Que meu canto seja sempre mensagem ao coração

Quero cantar com verdade e com sensibilidade
Quero cantar sem pudor
Quero cantar com ousadia

Quero cantar com prazer
E embora, às vezes, seja triste a canção
Quero nunca faltar ao exercício de cantar

Quero que minha alma cante
Mesmo que a voz me falte
Quero que o canto me seja interno, eterno e real
Fazendo parte de mim como se minha vida fosse 

Quero cantar com amigos em coro
Quero cantar sozinha
Quero cantar hoje
Quero cantar sempre

Que eu cante, ó DEUS, o Teu canto
Embora não seja digna, que cantes em mim
Que sejas minha voz, meu ar, minha canção

(*) citação deliberada de João Alexandre, em "Viver e cantar".

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Pranto lavado


Nas águas de Manaíra lavei meu pranto
Pranto da ausência
Pranto doído da partida do ser amado
Olho e não o vejo
Fecho os olhos e o sei ausente
Partiu
Calmo e seguro
Como quem sabe que deve ir

As águas foram difíceis de alcançar
Minha inércia afastava-me delas
Mas quando aproximei-me devagar 
E percebi a frescura da areia molhada
Senti que poderia aliviar minha dor
Então segui e deixei que me molhassem
Primeiro os pés
Depois o corpo
Aos poucos

As primeiras ondas eram pequenas e suaves
Depois se intensificaram
Dificultando meu andar
Mas mantive o passo
Segui em frente
Com dificuldade
Como temos que seguir na vida
Quando os que amamos partem
E deixam no coração a ausência 

Nas águas de Manaíra lavei o corpo
Lavei a alma
Lavei os olhos e deles o pranto
Mas como fica impregnado na pele o seco sal
Até que seja lavado por água doce
A dor da ausência ainda fica no coração
Até que seja retirada pela doçura do reencontro

(Praia de Manaíra, João Pessoa
15 fevereiro 2014)

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Qual a sua referência vocal?

    Uma das coisas que mais influencia  a voz de uma pessoa são as referências vocais que ela ouve. Somos muito miméticos e tudo que aprendemos desde a infância é imitando, seguindo exemplos. Primeiro dos pais, familiares, depois dos professores (que responsabilidade!), amigos. E de pessoas que, por uma razão ou outra, elegemos no nosso contexto social.
    No que diz respeito à voz, isso é muito claro. Por isso, em geral, temos a voz falada muito parecida com a dos nossos pais. Quem nunca passou pela situação de atender o telefone na casa dos pais e a pessoa do outro lado achar que é sua mãe, ou seu pai falando? E, às vezes, já vai entrando no assunto, até ser interrompido: "não, aqui é o filho dele"...
   Quero comentar sobre as referências vocais para a voz cantada. Porque, assim como na fala, o timbre e as características do nosso canto são muito influenciados pelo que ouvimos.
    Sou professora de canto erudito (ou canto lírico), o estilo de canto que interpreta a música erudita, ou clássica. Na sociedade brasileira atual, esta é uma expressão musical e vocal de exceção. Não está presente no dia a dia das pessoas. Não toca normalmente no rádio e nas mídias mais comuns. 
    Por isso, de vez em quando me pergunto: qual é a referência vocal dos meus alunos? 
O que será que eles ouvem mais? Que estilo, que cantores? Pois, sei que seja lá o que for, ou quem for, está influenciando enormemente o desenvolvimento dele no seu estudo de canto. Ou, atrapalhando... Bem, não tenho como saber exatamente. Mas, tenho minhas suspeitas e elas não são boas. Pois eles estão sujeitos ao material cultural e artístico que a mídia moderna – principalmente televisão e internet – despeja diariamente diante deles. Então passo a me preocupar. Porque o que se vê neste material é o pior possível. Tanto do ponto de vista da simples saúde e higiene vocal, como do ponto de vista técnico.
   Qualquer estudante de canto que queira se desenvolver nesta área, precisa de boas referências vocais.  Precisa ouvir bons cantores eruditos, líricos e cameristas. Mais do que os da música popular, ou do gospel (credo!) e mais do que qualquer outro estilo que a mídia veicula.
   Descubro, então, que estes alunos, tem que se transformar em "garimpeiros". Porque tem que se livrar do lixo cultural (citando Ariano Suassuna), cavar, peneirar, filtrar muito para encontrar uma boa referência de canto. Eles precisam ouvir e assistir recitais e óperas. Onde eu trabalho atualmente, assistir um recital de canto é coisa rara. Poucos canais de TV a cabo tem programas de música erudita e quando passa ópera é sempre de madrugada. As melhores gravações são caras. Os estudantes não tem como comprar. Então, de onde viria esta referência? No meu tempo de estudante, havia um tráfego de empréstimos e trocas entre os colegas de fitas K7, CDs e VHS, muitas vezes copiados dos professores. Hoje temos o Youtube, que facilita muito. Mas, a variedade que está lá pode ser enganosa. Nem tudo no youtube é bom referencial. Tem que garimpar.
   O canto erudito é a modalidade vocal mais exigente no que diz respeito à técnica vocal. A colocação do som (ressonância), que resulta no timbre é um fator primordial na formação da voz. Além do ideal do legato, controle de dinâmica... É um outro mundo em termos de sonoridade. Uma ou duas aulas por semana não cria referencial suficiente. Principalmente, se em todas as outras horas da semana, o cantor ouve outro som, outras vozes. Esta concorrência é inglória, como inglorioso será o desenvolvimento da voz de quem não tratar de correr atrás deste referencial. É uma luta. E para ela, temos que nos munir de CDs, MP3, DVDs e vídeos do Youtube, de bons cantores, bons exemplos. Fazer com que ouvir canto erudito torne-se algo comum no dia a dia.

Que tipo de música você ouve?
Que cantores você ouve?
Que tipo de referência você tem para sua voz?