Malú Mestrinho

Apresentação

Olá!
Este é meu blog pessoal.

Aqui pretendo comentar sobre coisas que vi, ouvi e vivi.
Gosto de escrever e às vezes sinto um impulso de compartilhar... Como não sei exatamento com quem, resolvi criar este espaço e deixar que pessoas acessem e leiam quando quiserem.
Pretendo também escrever e trocar idéias sobre a arte do canto. Mais especificamente do canto que interpreta a música chamada erudita.

Malú Mestrinho
(em julho/2010)


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Transeamus

(para as cantoras do Madrigal Ars Femina)

   Descobri recentemente esta palavra e tomei-a para mim.
   Traduzindo para o português as poesias do "A ceremony of carols" de Benjamin Britten, que o Madrigal Ars Femina está preparando, deparei-me com ela.
   Há várias expressões em latim na 3ª canção "There is no rose". Expressões lindas como "res miranda" (algo admirável), "gaudeamus" (alegremo-nos), das quais gosto muito. Mas a última palavra latina da canção me chamou a atenção: TRANSEAMUS.
   Na Vulgata, é o verbo que os pastores usaram, depois da visita dos anjos, no dia em que JESUS nasceu. No HODIE. Está em Lucas 2:16
"Transeamus usque Bethlehem et videamus hoc verbum..." 
"Vamos até Belém e vejamos o que aconteceu..."
   Os pastores não se conformaram em saber daquela notícia e ficar onde estavam. Tinham que ir até lá.
   O significado é este, de ir adiante, atravessar. Este significado pode se aprofundar, e - como toda boa palavra (esta é ótima!) - frutificar: seguir em frente, transpor obstáculos, ultrapassar limites, tomar uma direção, tomar uma decisão, mudar de atitude, inconformar-se, decidir chegar, ter um objetivo... ou simplesmente, IR.
   Há um sentido forte de decisão nesta palavra: VAMOS! É um imperativo, portanto uma ordem, na 1ª pessoa do plural, um auto-comando coletivo. Não é para eu ir sozinha. É para irmos juntos. 
   Palavras me encantam, me intrigam, me fazem pensar. Algumas ficam comigo, me acompanham por uns dias, multiplicando seus sentidos, participando de analogias e ligações semânticas inesperadas. Esta foi uma que ficou e tem falado comigo nos últimos dias. Em vários momentos ela me aparece. Se tenho uma dificuldade, ou ameaça o desânimo, a palavra se faz presente, como um conselho sussurrado, semelhante ao "carpe diem" do filme "Sociedade dos poetas mortos", um dos meus favoritos.
   Às vezes, algo quer nos segurar, desanimar e é preciso transpor o que quer que nos atrapalhe. Precisamos continuar indo adiante.
   Acho que gostei da palavra, porque gosto da ideia de movimento. Tenho um lado nômade, que me move sempre a mudar, inventar, "aprontar". Mas, há momentos em que parece que é melhor se acomodar e vem à mente algo como "Que tal parar, ficar por aqui?..."

NÃO!
Mesmo na crise - TRANSEAMUS
Diante da incredulidade - TRANSEAMUS
Contra a resistência - TRANSEAMUS
Vontade de desistir? - TRANSEAMUS
Para o comodismo - TRANSEAMUS
Em meio à mediocridade - TRANSEAMUS
Percebendo dificuldades - TRANSEAMUS
Sentindo cansaço - TRANSEAMUS
Com poucos parceiros - TRANSEAMUS
Quando tudo parece dar errado - TRANSEAMUS
Sem apoio - TRANSEAMUS
Promessas não cumpridas? - TRANSEAMUS
Em meio à incompreensão - TRANSEAMUS
Sem as condições ideais - TRANSEAMUS
Sem condição alguma - TRANSEAMUS
Diante do fracasso -TRANSEAMUS
Para a preguiça - TRANSEAMUS
Quando o tempo é pouco - TRANSEAMUS
Quando não há mais tempo - TRANSEAMUS

E assim vamos em frente... transeamus.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Sobre cantar num culto



"Louvai ao SENHOR. Louvai o nome do Senhor; louvai-o, servos do Senhor.
Vós que assistis na casa do Senhor, nos átrios da casa do nosso Deus.
Louvai ao Senhor, porque o Senhor é bom; 
cantai louvores ao seu nome, porque é agradável."
Salmos 135:1-3



   Domingo passado (26/07/2015) tive a alegria de, mais uma vez, participar cantando de um culto da Igreja Memorial Batista de Brasília. Quase sempre que venho a Brasília tenho o privilégio de cantar lá. Cantar na igreja é diferente de cantar num teatro. Não pelo lugar, mas pelo momento, que dá outro significado ao canto. O culto é uma celebração de cristãos, que se reúnem para adorar, louvar a Deus. Cantar num culto é cantar para Deus, mas também para as pessoas. É tocar o coração das pessoas, através da música, com uma mensagem que vem de Deus. Sinto um prazer muito grande de cantar num culto. É como se estivesse cumprindo aquilo para que nasci, para que estudei. Mesmo que tenha este sentimento sempre que canto, em qualquer lugar, na igreja há algo mais sublime. Me sinto usada por Deus de uma forma diferente. Tenho isso como um ministério.

     Neste domingo foi ainda mais especial, por 2 motivos:
   
    Era culto de aniversário. 55 anos desta igreja que foi e é bênção na minha vida e da minha família. Tenho uma relação muito forte com esta igreja. Na Memorial de Brasília, tomei minha decisão, ainda criança, de seguir e servir a JESUS CRISTO. Fui batizada na Memorial, aos 9 anos de idade, pelo Pr. Éber Vasconcelos. O mesmo que fez meu casamento, também lá na Memorial, em 1982. Anos depois, lá também, apresentei meus dois filhos, consagrando-os ao SENHOR. Hoje, meus pais ainda são membros de lá e Hadassa, minha filha é seminarista desta igreja. 

    Hadassa tem a ver com o 2º motivo. A música que cantei é composição dela e foi ela que tocou comigo, ao piano. Coisa rara... A poesia é uma oração de entrega a este Deus maravilhoso, que nos ama e cuida de nós. 
Foi uma bênção estar ali, celebrar com os irmãos, cantar com a filha a música dela. Deus é bom. Deus é muito, muito bom. 
Graças a Deus pela Memorial Batista de Brasília. 
Graças a Deus pelo privilégio de cantar nas várias "casas" que ELE tem por aqui.

     Cantemos! 


DEPENDÊNCIA

Não há mais o que temer
Pois em Ti sou livre pra viver.
Me entreguei em Teus braços,
Me acolheste com amor.
Foi a Ti que me apeguei .
Só em Ti a paz eu encontrei.
És o meu companheiro
E meu Salvador
Pai, dirige sempre meus passos
Que eu não quero me desviar
Nem me afastar de Ti
Quero só viver pra Ti
Nesta dependência.

(Hadassa Mestrinho Sylvestre)

segunda-feira, 13 de julho de 2015

MUSAS

   Na grécia antiga, elas eram entidades mitológicas que inspiravam as artes. A própria palavra música veio delas. A idéia da musa inspiradora permaneceu até hoje e ao longo da história, inúmeras poesias e canções, por todo o mundo, foram inspiradas em mulheres. Toda mulher, por sua sensibilidade, delicadeza e encantamento, pode ser uma musa.
   Esta semana, o Madrigal Ars Femina estréia um concerto com canções brasileiras cujos títulos são nomes de mulheres. Musas, ora verdadeiras, ora imaginárias, que inspiraram poetas e compositores a criar canções com seus nomes. Marina, Luiza, Ligia, Doralice, Madalena são algumas das canções, com arranjos para vozes femininas, que compõem o repertório do concerto.
   Escolhemos o nome Maria, o mais comum, para sintetizar estas mulheres em uma: a mulher brasileira. Com sua força, sua alegria, seu charme, sua beleza e simplicidade. O concerto começa com "Olha Maria" (Tom Jobim/Chico Buarque/Vinícius de Moraes) e termina com "Maria Maria" (Milton Nascimento/Fernando Brant). Queremos alcançar a mulher comum, tirando do pedestal a musa ideal, perfeita, utópica. Somos todas mulheres, somos todas Marias, somos todas musas.
Quatro arranjos serão estreados neste concerto, feitos especialmente para o MUSAS, sob encomenda do Ars Femina a compositores amigos daqui de Campina Grande: "Luiza" (Tom Jobim) tem arranjo de Luis Passos; "Ligia" (Tom Jobim), de Mayra Carmeli; "Doralice" (Dorival Caymmi) de Vladimir Silva; e "Maria Maria" (Milton Nascimento/Fernando Brant) de Ulisses Azevedo.
  Outros arranjos, selecionamos dos já existentes: "Clareana" (Joyce Moreno), arranjada por Eduardo Carvalho; "Marina"(Dorival Caymmi), arranjada por Alexandre Zilahi , que assina também o arranjo de "Madalena" (Ivan Lins/Ronaldo Monteiro). "Luciana" (Tom Jobim/Vinícius de Moraes) tem arranjo de Samuel Kerr. Cantamos Terezinha"(Chico Buarque) num medley com a canção de roda "Terezinha de Jesus".
   Sete músicos dividem o palco conosco, enriquecendo o programa: Paulo Cesar Vitor (piano), Ulisses Azevedo (violão), Maxwenio Dias (contrabaixo), Beto Cabeça (percussão), Felipe Oliveira (flauta), Felipe Villarin e Michel de Lima (clarinetes). 


   As cantoras que compõem o Ars Femina atualmente são: Allice Montenegro, Aparecida Avyllis, Tunisia Souza, Eloide Lima, Savanna Aires, Dayane Maciel, Evelyn Lima, Aluska Guimarães, Samara Andrade, Geysy Carolline e Edvani Alves. São minhas parceiras no projeto Ars Femina e no projeto MUSAS. Vozes diferentes, com experiências diferentes... Mas, todas juntas formamos um grupo que construiu este espetáculo em meses de muito trabalho, extrapolando o estudo acadêmico das aulas de canto coral. Com certeza, valeu a pena. Dentro do grupo, Tunisia Sousa e Allice Montenegro são nossa equipe de produção, cuidando de aspectos administrativos e estruturais.
   Estamos felizes de estrear o MUSAS no VI Festival Internacional de Música de Campina Grande e no palco mais nobre da cidade: o Teatro Municipal Severino Cabral. Agradeço ao Prof. Vladimir Silva por nos dar esta oportunidade.
   O MUSAS é um concerto sobre mulheres, para mulheres, cantado por mulheres. Mas, com certeza, os homens também curtirão muito nos ouvir. Aliás, a maioria dos poetas e compositores são homens! Temos uma expectativa muito boa de que será um momento lindo, muito especial para nós e para quem vai assistir.

Concerto MUSAS
Madrigal Ars Femina
(Dentro da programação do VI Festival Internacional de Música de Campina grande)
15 jul 2015 (4ª feira), 16h
Teatro Severino Cabral
Entrada Franca

Curta a página do Madrigal Ars Femina no Facebook: https://www.facebook.com/madrigalarsfemina

Acesse a programação do VI FIMUS: http://www.fimus.art.br/


domingo, 3 de maio de 2015

A história de uma "Boa notícia"

     Quero contar aqui a história de uma canção, que foi dedicada a mim, num momento crucial. Agora, 10 anos depois, voltei a estudá-la e cantá-la para gravar. E contando para uma amiga a história dela, me conscientizei de como é significativa para mim.
     Em outubro de 2005, eu estava preparando o meu primeiro recital no mestrado na EMAC/UFG  -- Escola de Música e Artes Cênicas da Universidade Federal de Goiás. Meu objeto de pesquisa era o repertório brasileiro contemporâneo, para voz em formações camerísticas, sem piano. (Nada contra o piano! Apenas, quis pesquisar como a voz se comporta sem o seu grande companheiro e apoiador, em formações diferentes). Neste recital, estariam tocando comigo um violão (Rodrigo Carvalho), uma flauta (Larena Araújo) e um contrabaixo (Sonia Ray). No repertório havia vários duos com cada um destes instrumentos e um trio para voz, flauta e violão. Minha orientadora, Sonia Ray, queria uma peça para terminar o programa. A princípio, ela queria algo que envolvesse os quatro músicos juntos. Impossível. Então, como havia um trio com voz, flauta e violão, ela resolveu que devia haver outro trio, que incluísse o contrabaixo. Sugeriu que eu adaptasse um trio para madeiras (oboé, clarineta e fagote) para a formação flauta/voz/contrabaixo. Difícil! Cheguei a encontrar um trio, mas a adaptação seria terrível, principalmente porque a parte da clarineta, que seria feita pela (minha) voz, não era nada "idiomática". Fiquei, então, com um problema enorme para resolver. Tinha que encontrar um repertório para flauta, voz e contrabaixo! Todos sabem que orientador de mestrado não é uma pessoa com quem se pode negociar (rs...). Ela não aceitaria uma desculpa e faltava pouco mais de um mês para o recital.
André Vidal, o compositor
     Naqueles dias, cantei num concerto na Escola de Música de Brasília  com meu amigo André Vidal e comentei com ele sobre este dilema. André, além de excelente cantor, é também compositor. Ele até se dispôs a ver a partitura do  trio, para me ajudar a adaptar. Nesta época, eu e André trabalhávamos juntos em vários projetos, como a Banda Antiga da Escola de Música de Brasília, o grupo vocal perSonare e estávamos sempre cantando juntos em algum evento. Nesta noite depois do concerto, André (um notívago, como eu) teve insônia. Passou a noite compondo...
Na manhã seguinte, recebi uma mensagem dele com o assunto "Uma surpresa". No texto da mensagem, escreveu: "Te mando uma boa notícia." Em anexo, estava a partitura de um trio para a formação flauta, mezzo e contrabaixo, feita sobre uma poesia que tinha este título: "Boa notícia". Ele escreveu para mim exatamente a obra que eu precisava para fechar meu recital. Então, além de ter uma estreia mundial no programa, que enriquece muito o repertório, eu tive uma obra dedicada a mim! Vários colegas acharam que eu tinha encomendado a obra. Mas, eu a recebi de presente de um grande amigo. É bom ter amigos. Amigos talentosos e generosos, mais ainda...
Larena Araújo, Sonia Ray e Rodrigo Carvalho
músicos que tocaram comigo no Recital Boa Notícia
     Assim, "Boa notícia" foi estreada em Goiânia, no dia 11 de novembro de 2005, no recital, que por idéia de Sonia Ray, levou o nome da canção. 
     Depois, eu a cantei mais 2 vezes. Num concerto no 30º CIVEBRA -- Curso Internacional de Verão da EMB, em 27 de janeiro de 2007, pouco antes do meu recital de defesa do mestrado, que foi em março daquele ano. Neste concerto, tocaram comigo Sergio Barrenechea (flauta) e Francisco Orrú (violoncelo, fazendo a parte do contrabaixo). André Vidal estava presente neste concerto e ouviu sua canção pela 1ª vez. Tivemos um grupo de música de câmara contemporânea na EMB: O LAB -- Laboratório de Performance e pesquisa em música. E num dos recitais deste grupo, em 15 de maio de 2008, "Boa notícia" foi tocada mais uma vez, com Davson de Sousa na flauta e Ricardo Vasconcelos no contrabaixo. 

 Abaixo, o programa do recital do mestrado, onde Boa Notícia foi estreada:





     Agora, 10 anos depois da composição, "Boa notícia" voltou a ser tocada, desta vez para ser gravada no CD autoral do André Vidal. Tive que reestudar e trabalhar para cantá-la novamente. Fui a Brasília e tive o privilégio de ensaiar e gravar com Davson de Sousa (flauta) e Rodolpho Borges (cello).
Eu e meu amigo André Vidal, num dos vários recitais que fizemos juntos.
     Sempre digo que não merecemos nada do que temos. Deus nos dá tudo que precisamos, por Sua graça. Naquela ocasião, Deus me abençoou com esta canção. Louvo a Deus pela vida do André Vidal, por sua música, talento, generosidade e por ser meu amigo. Mais uma vez, agradeço ao André por este presente maravilhoso. Foi um privilégio ganhar "Boa notícia" e poder cantá-la com músicos sempre competentes. E agora outra honra gravá-la no CD "A brisa e a rosa". Que bom que a canção ficará registrada no CD. Fica, então, registrada aqui a sua história. Espero que a gravação fique a contento. A história eu tinha que contar... é linda!

Cantemos!

quarta-feira, 11 de março de 2015

Sobre o estudo do canto

(Para Sandro Lima, que me fez pensar sobre isso.)    


     Por circunstâncias pessoais, estou há duas semanas afastada da sala de aula e longe dos meus alunos de canto. Estou corrigindo por e-mail tarefas que eles me mandam, que chamo de "Notas de contexto", sobre as obras que estão estudando e as traduções de seu repertório. Estou também orientando (via chat digital) um aluno que prepara seu primeiro recital. Fico, daqui de longe, lendo o que escrevem, percebendo suas dificuldades. E penso, concordando com eles: como é difícil estudar canto! São tantos os aspectos que envolvem este aprendizado. Os jovens estudantes, que já são uma exceção na sociedade, por se interessarem pelo canto erudito, entram nos cursos atraídos pelo repertório, provavelmente pela ópera. Ou pela técnica vocal, a possibilidade de cantar com "aquela voz", de ser um artista lírico. Só que... acho que entram meio enganados (coitados!) pois não sabem tudo que terão que passar e aprender para chegar a interpretar bem um Lied, ou uma ária de ópera. Vejamos:

# Tem que saber música (isso eles já sabiam). Mas tem que ser um bom músico e dominar muito bem uma das partes mais exigentes desta arte: o solfejo.

# Tem que dominar técnica vocal num nível muito alto, porque a arte que escolheram para exercer é a mais exigente neste aspecto. Exercícios diários são fundamentais.

# Tem que dominar a pronúncia de (no mínimo) seis idiomas, além do seu próprio. O repertório do canto está escrito nas línguas ocidentais tradicionais e deve ser interpretado na língua original em que foi escrito. Os estudantes/cantores brasileiros tem que cantar em italiano, francês, inglês, alemão, latim, espanhol. Além do bom português, que por incrível que pareça, às vezes, é mais difícil de cantar com a voz bem colocada, do que as outras línguas.

# Tem que compreender totalmente o texto de cada ária/canção que estão estudando/cantando, na maioria das vezes em língua estrangeira. Às vezes são poesias muito antigas, parnasianas ou simbolistas, que mesmo traduzidas para o português são difíceis de entender. 

# Tem que dominar a arte da "Declamação Lírica"(lembro que no currículo de canto da UFRJ havia uma disciplina com este nome). Não só compreender a poesia, mas saber dizê-la, senti-la, encontrar suas inflexões e a força expressiva de cada palavra. 

# Tem que conhecer muito bem expressão corporal e saber usá-la. Saber perceber e dominar sua postura, a expressão facial, seu gesto, para que sejam harmônicos com o que cantam, sem exageros. Dominar o equilíbrio entre o relaxamento e a tensão da musculatura do seu corpo, que é o seu instrumento. 

# Tem que dominar a arte dramática, pois o cantor lírico é também um ator. Ópera é teatro. Cantar bem não é suficiente. Tem que atuar bem, dominar o espaço cênico, assumir cada personagem e os diversos sentimentos que eles trazem em cena, seja na comédia, ou no drama.

     Na verdade, cada um destes aspectos é apoio para o outro. São interagentes, como fios de uma trama. A trama que forma o cantor. Infelizmente, quatro anos de um curso de graduação superior não é capaz de tecer esta trama. As atividades extra-curriculares são fundamentais: festivais, oficinas, montagens, cursos de línguas e outras vivências.

     Há ainda outros aspectos, que nenhum curso ou disciplina ensinam. O cantor lírico tem que ter boa cultura intelectual, conhecer arte de uma forma geral, saber se vestir adequadamente, se portar bem em público – ser bem educado. Por último, o cantor tem que ter equilíbrio emocional, pois vai enfrentar muita pressão, numa profissão onde nem sempre a competência é critério suficiente para o sucesso. 

     Não é fácil, mas é empolgante e vale a pena. Uma das coisas mais gratificantes é cantar bem, seja num recital, concerto ou ópera.

     Para mim, é um trabalho estimulante orientar os estudantes, pelo menos nos aspectos que estão ao meu alcance. Fico hoje curiosa, pensando em quem dentre os meus alunos de hoje, alcançará a carreira de cantor lírico no futuro. Hoje, são todos cantores em potencial. Faço a minha parte, exigindo, estimulando e tendo o prazer de perceber o crescimento a cada semestre.


C A N T E M O S !