Malú Mestrinho

Apresentação

Olá!
Este é meu blog pessoal.

Aqui pretendo comentar sobre coisas que vi, ouvi e vivi.
Gosto de escrever e às vezes sinto um impulso de compartilhar... Como não sei exatamento com quem, resolvi criar este espaço e deixar que pessoas acessem e leiam quando quiserem.
Pretendo também escrever e trocar idéias sobre a arte do canto. Mais especificamente do canto que interpreta a música chamada erudita.

Malú Mestrinho
(em julho/2010)


quarta-feira, 20 de julho de 2016

Zéllo Visconti - um canteiro de cores

     Zéllo Visconti é um artista plástico carioca, que já foi brasiliense e agora é paraibano. Seus quadros são super coloridos, com um estilo bem próprio, usando uma técnica mista, que inclui colagem de elementos inusitados como retalhos de pano e guardanapos de papel (!!!). Na verdade, Zéllo faz arte com tudo ou qualquer coisa. O que cair e couber na mão ... "se colar, colou". Sua arte transcende as telas, porque seu olhar estético cria à sua volta um ambiente igualmente colorido, artístico e criativo, desde a roupa que veste à decoração da sua casa, que mistura diferentes estilos e materiais, numa combinação que em qualquer outro lugar ficaria estranhíssimo... Mas, na casa do Zéllo fica lindo e de bom gosto. Eu, que sou chegada a cores pastéis e objetos simples, olho,  às vezes, meio assustada para aquela parafernália de elementos e cores, tentando entender como pode ficar tão adequado um objeto de plástico roxo ao lado de uma estrutura de metal vermelho, ou de cerâmica amarela. Coisas que aparentemente não combinam entre si, se harmonizam quando passam pelas mãos deste artista. Demorei a me acostumar com a estética multicolorida, pop-tropicalista do Zéllo. Na verdade, tive que aprender a gostar. Hoje, a arte do Zéllo me encanta. Por isso, resolvi falar sobre ela aqui.
     Zéllo Visconti é meu amigo. Eu o conheci em Brasília há 30 anos, quando ele era colega do Josué Jr. (meu marido) no Conjunto Cultural da CAIXA. A sala de trabalho dele era um verdadeiro atelier, não se parecia em nada com um ambiente bancário. Ele me chamou a atenção com seu jeito meio louco de ser, super alegre e brincalhão, daqueles que é difícil saber quando está brincando ou falando sério. Na verdade, dificilmente ele fala sério... Nesta época, ele nos presenteou com uma tela dele da série "Querubíndios". Tenho uma lembrança bem especial dele, quando eu pedi demissão da Caixa Econômica Federal. (Sim, eu passei num concurso da Caixa, em 1989, e trabalhei na Assessoria de Comunicação Social da Presidência, na Matriz. Mas... só aguentei 4 meses). Eu tinha acabado de me formar em Música na UnB, cheia de ideais artístico-musicais e tinha 2 filhos pequenos. Aquela burocracia me enlouquecia. Por mais que o salário fosse bom, eu sentia que estava no lugar errado. Queria estudar, cantar, conviver com meus filhos e não ficar 6 horas por dia digitando textos. Todo mundo me criticou, e muitos me aconselharam a não sair da empresa. "Imagina, perder um emprego como aquele." Zéllo foi o único que reagiu diferente. Quando contei para ele, no corredor da Matriz, que estava pedindo demissão, ele me deu um abraço e disse: "Parabéns, é a melhor coisa que você faz."
Zéllo e sua obra "Fluindo sentimentos" quebrando os tons pastéis da nossa sala.
     Zéllo mora em João Pessoa há 5 anos e eu vim para Campina Grande há quase 3 anos. Nos reencontramos de forma inesperada em Areia/PB, num festival da cidade, onde fui cantar e ele estava expondo e dando uma oficina. Conversamos a noite inteira e, no dia seguinte, ele nos deu uma tela chamada "Fluindo sentimentos", marcando nosso reencontro. Desde então, aproveitamos a proximidade e nos encontramos sempre que possível.
     Eu teria muitas histórias pra contar do Zéllo, mas o texto ficaria muito longo... 
     Vou contar apenas a feliz surpresa de um fim de semana deste mês de julho. Aproveitamos a ocasião de um evento na Pousada Oásis Tajajá (em Conde/PB), no qual ele faria uma tela ao vivo e fomos antes a João Pessoa prestigiar a sua exposição, "Canteiro de Cores", no Centro Cultural São Francisco. Passeei pelo Canteiro do Zéllo, e várias telas me encantaram. Mas uma em especial, "Ideias flutuantes", me chamou a atenção, me cativou. Eu disse a ele que aquela era a peça que mais gostei na exposição. Conversamos sobre ela. Tinha um movimento de leveza; duas plumas multicoloridas, que pairavam flutuando, uma sobre a outra. Ou seriam pássaros...?
     No dia seguinte, no evento, o quadro feito ao vivo seria sorteado entre os presentes. Acompanhei atenta o trabalho do amigo/artista tentando entender o que o movia e em que direção iria. O processo criativo de invenção e improvisação me impressionou. Pronta a obra, fiquei olhando para ela, precisando me acostumar com a mistura de cores e formas, na busca que sempre tenho (tradicional que sou) de encontrar um significado. Ao contrário de "Ideias flutuantes", o novo quadro não me falou muito. Zéllo, sensível como qualquer artista, percebeu isso. No final do evento, tivemos a surpresa de sermos nós os sorteados com a tela. Ficamos muito felizes e quase em estado de choque, pela surpresa. Depois da entrega, fotos e comemorações, o sensível artista e amigo Zéllo veio conversar conosco. Ele resolveu trocar os quadros (!!!). Queria que o quadro novo ficasse na casa do evento, onde a obra fora criada. Como tínhamos sido sorteados, ele nos daria o quadro da exposição que me encantou. Quase chorei... 
"Ideias Flutuantes"
     Às vezes, acho que Deus me mima. Me dá coisas que sabe que eu gosto, por pura graça. Pois, naquela noite, fui objeto da graça de Deus, ganhando uma obra de arte. Um quadro que  vi numa exposição, admirei, desejei, compreendi (a meu modo) e que seria comprado e levado por outra pessoa. Mas, fui agraciada também com a amizade de um artista generoso, que resolveu me dar este quadro preferido no lugar do que foi sorteado.
     Zéllo Visconti é um artista plástico...
     Zéllo Visconti é meu amigo... 
     "Ideias flutuantes" pairam hoje na parede da minha casa.

     Graças a Deus!