
Privilégio... é a sensação que me vem à mente ao lembrar dos momentos em que cantei para aqueles estudantes.
Confesso que eu tinha o preconceito de que eles não iam gostar. Reflexo da idéia equivocada de que música erudita é para as elites (nem tinha noção do quanto eu acreditava nisso), o preconceito caiu por terra com a vivência neste projeto. A maioria nunca tinha ouvido o tipo de música que fizemos. E eles gostaram! Ouviram com atenção. Lembro dos rostos atentos, olhos cheios de expectativa. Alguns até marejados. Houve momentos incríveis de interação, compreensão, que extrapolam a expressão escrita.
A "Cantiga dos olhos que choram", de Frutuoso Viana, foi o ponto mais forte desta interação. Pedíamos a eles que prestassem atenção na poesia, para depois responderem à pergunta que a poesia de Guilherme de Almeida fazia. Percebia, enquanto cantava, o questionamento se movendo nas mentes, nos rostos e no espaço da sala: "Porque só os olhos choram? Porque as lágrimas moram neles só?" E era fantástico ver a expressão de vitória intelectual quando eles percebiam a resposta no verso seguinte...
O poder da música, da poesia, da arte, atingindo vidas... é maravilhoso.
Fiz dezenas de recitais didáticos na Escola de Música de Brasília. Mas, lá eram estudantes de música, numa escola de música. O clima e o significado são outros. É completamente diferente entrarmos na escola comum, que não está "preparada" para uma apresentação de música erudita e oferecermos um recital.
Gosto da palavra "oferecer" aqui. Como se fosse um presente, uma coisa boa para quem está ouvindo...
Fiz dezenas de recitais didáticos na Escola de Música de Brasília. Mas, lá eram estudantes de música, numa escola de música. O clima e o significado são outros. É completamente diferente entrarmos na escola comum, que não está "preparada" para uma apresentação de música erudita e oferecermos um recital.
Gosto da palavra "oferecer" aqui. Como se fosse um presente, uma coisa boa para quem está ouvindo...
Quanto mais simples a comunidade em que a escola estava inserida, maior era o interesse, o respeito, a atenção. É muito diferente de cantar num teatro. É tão mais vivo, mais real... Como disse o Marcelo: "É outro tipo de apresentação artística..."
Interagiamos com o ruído. Tanto os da natureza, como os urbanos. De serras elétricas e britadeiras a cantos de pássaros e chuva, passando pelos ventiladores. E é claro, sons de escola. Várias vezes o "sinal" tocou... E os meninos, obviamente, não ficaram o tempo todo quietos. Se remexiam, comentavam ... Mas, o interesse deles se estabelecia acima disso.
Vários vinham depois conversar, comentar, perguntar...
Valeu demais!
Agradeço a Deus esta oportunidade de aprender um jeito novo de fazer música de concerto, fora de um concerto.
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