Construir um instrumento dentro de uma pessoa. Ensiná-la a tocar este instrumento, que é ela própria. Envolve muito mais do que técnica e muito mais do que metodologia. Envolve sensibilidade e psicologia. Tem que saber ouvir a voz, o timbre e o coração. Tem que saber escutar o aluno, seu som, sua respiração e suas angústias...
E quando ele rejeita a própria voz, saber que a rejeição não é à voz, mas a ele mesmo. Saber que ele vai precisar primeiro se aceitar, para depois aceitar a voz que tem e deixá-la fluir
Talvez haja o dia em que o aluno nem consiga cantar. E o professor pensa: "o que ele veio fazer aqui, então?" Mas tem que ouví-lo assim mesmo. Ouvir suas dúvidas, sua dor, sua revolta... A sala de aula vira então um divã. E o professor um amigo e conselheiro.
[Nas salas de canto da Escola de Música de Brasília existem divãs, destinados aos exercícios de respiração. Sempre brincávamos que eles serviam também para a outra função mais comum...]
A voz é ligada à alma e influenciada pelos sentimentos. Cantar é um exercício do espírito humano, não só do aparelho fonador. Por isso, cuidar só da técnica, não forma um cantor integralmente.
Professor de canto fica nervoso junto com o aluno no recital. A mãos suam, como se ele próprio fosse cantar! E sofre quando o aluno erra, desafina ou não canta tão bem quanto na sala de aula. O que acontece quase sempre. Porque a sala de aula de canto é como em casa. A ressonância fica mais fácil, por que ficamos à vontade.
Oficialmente, o professor de canto ensina técnica vocal e interpretação de repertório. Na realidade, ensina isso e... música, solfejo, pronúncia, dicção, postura, etiqueta, línguas estrangeiras, história da música, ópera, música de câmara, fonética, análise literária, tradução de texto, formação de personagem, interpretação dramática, expressão corporal, ética profissional, etc...
Além de aconselhar, consolar, ajudar, dar carona, dividir lanchinhos...
Professor de canto compartilha com o aluno momentos de busca por algo intangível. Momentos de gratificação pessoal, por realizar algo singular: expressar-se artisticamente, através de um instrumento que está dentro da pessoa. Que é ela mesma. A sua voz...
Quando Zuinglio Faustini morreu, me senti meio orfã... E eu já não tinha aulas com ele há mais de 5 anos.
Adorei!!Saudades.
ResponderExcluirEvelyn Lechuga
Poooxa terminar ali na morte do Faustini deixou um tom tão triste...
ResponderExcluirFaltou um "e como sou feliz de ser professora de canto!" no final haoiheoiehe
Tenho muito orgulho de você, que Deus abençoe você e cada aluno, esteja começando a ter aula com você ou se formando pra "ir se virar"
;)
Bjs
Pois é, Had, acontece que tudo que escrevi pensei nele em não em mim... Ele foi isso tudo pra mim, tinha que terminar com ele. Mas, sim, é verdade, sou feliz de ser professora de canto... = )
ResponderExcluirTe amo!
Evelyn, obrigada por ler.
ResponderExcluirQue pena que nosso trabalho durou pouco. Gostei muito. E sempre acho que você devia continuar a estudar... = )
Desejo tudo de melhor!
um grande beijo
Que texto lindo Malu...
ResponderExcluirÉ tudo verdade...
Gostei muito..
Eduardo Machado.
Malú, confesso que no início de nossas aulas de canto me sentia apreensiva, tímida e desconfortável, eu tinha medo de vc não ser toletante com as minhas nóias, tipo achar que aquela voz não era minha e coisas do tipo hehehe. Bom, com o tempo fui sentindo a sua compreensão e paciência, o que ajudou a sentir-me confiante e mais à vontade com minha voz e como vc disse, comigo mesma. Estudar canto, vai além da técnica, é um auto-conhecimento e quando orientado por um professor consciente se torna algo magnífico. obrigada.
ResponderExcluirLindo, vou compartilhar!!
ResponderExcluirObrigada por me ler e por comentar.
ExcluirQue bom que gostou. Se compartilhou, melhor ainda!
(Pena que eu não sei quem é você...)
Um abraço
Inspirador... Obrigada pela partilha.
ResponderExcluirEu que agradeço, Giovanna, por vir aqui ler e ainda comentar!
ResponderExcluirQue bom que gostou.
Um grande abraço,
Malú