Malú Mestrinho

Apresentação

Olá!
Este é meu blog pessoal.

Aqui pretendo comentar sobre coisas que vi, ouvi e vivi.
Gosto de escrever e às vezes sinto um impulso de compartilhar... Como não sei exatamento com quem, resolvi criar este espaço e deixar que pessoas acessem e leiam quando quiserem.
Pretendo também escrever e trocar idéias sobre a arte do canto. Mais especificamente do canto que interpreta a música chamada erudita.

Malú Mestrinho
(em julho/2010)


terça-feira, 3 de novembro de 2020

Dez anos de sobreCanto

     


  O sobreCanto completou 10 anos!... E eu nem percebi. Minha filha, Hadassa, que me ajudou a criá-lo, foi que me chamou a atenção para isso, quando lia o último texto publicado.
       Dez anos escrevendo, compartilhando experiências e reflexões sobre a arte de cantar e sobre a vida. Escrever para mim é terapêutico, me faz bem. Escrever é uma forma de perpetuar momentos. A palavra escrita permanece. Muito mais a escrita virtual. Se fosse um diário em papel, poderia se perder, queimar, algo assim... e menos pessoas teriam acesso.
       Escrevi o primeiro texto em 29 de julho de 2010. Eu morava em Campo Grande - MS e acho que a motivação principal era escrever para os meus alunos da época, abordando assuntos relacionados com o aprendizado do canto. Mas, também queria criar um canal de expressão. O texto introdutório do blog fala do impulso que tenho de escrever e compartilhar.
       O plano de um texto por mês ficou longe de ser alcançado. 2011 foi o único ano com 12 textos publicados (mais ou menos, um por mês). Já, em 2018 não há texto algum. Na verdade, passei mais de dois ano sem escrever (entre maio de 2017 e agosto de 2019). Talvez, um bloqueio criativo causado pelo abalo emocional da viuvez...
        O blogger nos dá algumas estatísticas: 
👉 58 textos publicados. Fiquei satisfeita de perceber que 43 dos 58 são realmente sobre canto. Sinal que não traí a ideia original do blog.
👉 170 comentários. Como as minhas respostas também são contadas, na verdade são, mais ou menos, a metade disso.
👉  O texto mais lido foi Sobre cantores de igreja, campeão com mais de 2000 acessos. 
Depois vem o 10 filmes sobre canto com quase 1000 acessos. Até fiz uma continuação deste artigo, o Mais 10 filmes sobre canto (sobre música)
       Os textos tem formatos variados. Há relatos de trabalhos artísticos que realizei, reflexões pessoais, algumas tentativas poéticas, um conto. Há também as listas de filmes e, no tempo em que estava no facebook, usei o sobreCanto para divulgar eventos. 
       Meus filhos brincam comigo, me chamando de "blogueira"... rs. Com certeza, não sou... dedico pouco tempo escrevendo e, por estar fora de redes sociais, hoje em dia, divulgo bem pouco as publicações. 
       O sobreCanto registrou momentos significativos, que o tempo colocaria no esquecimento. Por terem ficado registrados, posso reler, relembrar e quem os viveu comigo também. Quem não viveu, mas ler, vivencia também, de uma outra forma.
       Gostei de olhar para estes 10 anos e ver uma trajetória de cantos e encantos que Deus me permitiu viver e escrever. 

        Transeamus


quinta-feira, 15 de outubro de 2020

No dia do professor... a história de um aluno.

       Conheci Eduardo no 2º semestre de 2009, em Campo Grande - MS.  Ele estava iniciando o Curso de Licenciatura em Música da UFMS, e eu, recém chegada, como professora de canto da instituição. De início, foi logo me dizendo que não gostava de música erudita, queria cantar música popular. Eu não permiti. O concurso que eu havia feito era na área de canto erudito e só trabalharia com o repertório da minha área de formação. Ele, como vários outros alunos, resistiu a princípio, tanto ao repertório como à técnica. Era muito desconfiado... Um dia mandei ele deitar no chão da sala, para perceber a musculatura abdominal. "Professora, o que que vão pensar, se alguém entrar aqui e me ver deitado?..." E assim, foram vários embates, até ganhar sua confiança. Percebi que era afinado, e tinha um "vozeirão", mas o apoio era "zero", muito trabalho pela frente, para a musculatura sustentar aquela voz toda. Mas, ao contrário de outros, Eduardo era assíduo e interessado. Perguntava muito sobre tudo, queria entender as coisas. Suas aulas acabavam sendo pequenas para as dúvidas que ele tinha... e combinei que ele anotasse as dúvidas e perguntasse por e-mail. Tenho dezenas de e-mails com perguntas do Eduardo...

       Além de aluno de canto, ele foi meu aluno na disciplina Técnica e Expressão Vocal, na qual montaríamos um "musical". Eu precisava de solistas e coloquei os alunos de canto "no fogo". Assim, logo no primeiro semestre, Eduardo se tornou meu solista na montagem de "O pássaro da terra" de João J. de Paes Loureiro, com canções de Waldemar Henrique. Ele foi o Caçador, personagem masculino principal. O musical foi um sucesso e a partir dali, ele percebeu que podia cantar. 

      Eduardo tinha potencial, e por trabalhar comigo vários dias na semana, nas aulas de canto e nos ensaios do musical, mas sobretudo por seu interesse, ele começou a se destacar. Os semestres se passaram e ele foi se desenvolvendo cada vez mais como cantor.

       Em janeiro de 2011, levei-o para o 33º Curso de Verão da Escola de Música de Brasília, no qual fui  professora. Este evento fez muita diferença, naquele momento, criando um referencial mais alto do que o que ele tinha antes. Eu o percebi deslumbrado em cantar num bom coro, com um repertório difícil, assistir concertos de alto nível e conviver com outros jovens estudantes, que já tocavam ou cantavam muito bem, porque estudavam muito. Voltou de lá com mais vontade de aprender e, como eu já previa, apaixonado pela música erudita. Lembro de ele me perguntar se eu achava que ele teria chance de se tornar mesmo um cantor. "Se você estudar bastante, tem toda a condição." Foi o que ele fez. Eduardo foi meu bolsista em todos os projetos que fiz na UFMS e não foram poucos... Culminando com a ópera "Dido & Eneas", na qual, ele interpretou Eneas. 

       Orientei o TCC e o recital de formatura de Eduardo no Curso de Licenciatura da UFMS, em julho de 2013. Em seguida, eu saí da UFMS, fui embora de Campo Grande e ele se sentiu meio "orfão". Me escrevia choroso, meio perdido, sem saber o que fazer. Eu o incentivei a ir para Goiânia fazer o Bacharelado em Canto da UFG, onde eu sabia que teria bons professores. Um tanto inseguro, ele seguiu meu conselho e foi. Passou por momentos difíceis, longe da família, mas resistiu e prosseguiu. De vez em quando, nos falávamos por e-mail, ou WhatsApp, eu na Paraíba, ele em Goiânia. Contava-me o que estava cantando, o que o professor lhe dizia. Sempre me mandava vídeos dos recitais que participava. 

       O tempo passou e voltei pra Brasília. Eduardo se formou, agora Bacharel em Canto. Em 2018, ele veio a Brasília com o Coro Sinfônico de Goiás, fazer uma Nona Sinfonia. Nos encontramos e ele me deu um DVD do seu recital de formatura. Eduardo é um cantor profissional, tenor concursado do Coro Sinfônico de Goiás. É um solista, que canta muito bem, além de lecionar canto numa escola técnica em Goiânia. 

       Sim, existe um mercado de trabalho para o cantor erudito. Sim, é possível, alguém que não teve um "berço do ouro" na música, alcançar este mercado. Olhando pra trás, tenho uma sensação gostosa de dever cumprido. Incentivei um rapaz simples, com algum potencial e muita curiosidade a estudar e vencer no mundo da música. Eu sempre gosto de ser amiga dos meus alunos, nem sempre consigo. Eduardo foi um aluno que me aceitou como amiga. Até hoje, conversamos, trocamos ideias e opiniões, agora, como colegas. Ele ainda tem um longo caminho pela frente. Que Deus abençoe Eduardo e o guie nas escolhas em sua carreira. 


Eduardo Machado, interpretando "De' miei bollenti spiriti", ária da ópera "La traviata", de G. Verdi. 


Valeu, Edu! 

Cantemos... 

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Dois textos pandêmicos


TEMPOS

No início, era a dúvida...
A incompreensão.
Como assim parar por causa de um vírus?
Não era lá da China, do frio?
Disseram que não chegaria aqui, que é quente.

Depois, veio o choque...
Decreto fecha tudo.
Quarentena...
Fique em casa! 

E então, veio a letargia.
Não tem mais academia
Não tem mais aula
Não saio mais... 
Nem pra fazer compras.
E sem motivação, 
Fiquei lerda, parada, 
Desanimada.

Agora, vem o medo...
Abrir? Tem certeza?
Tanta gente morrendo!
Como vamos viver?

Cadê o novo normal que não chega?
Ou já chegou e nem percebi?
Máscara, álcool, isolamento... é isso?
Até quando?

Enfim, o que virá no futuro...
Se só Deus sabe,
Melhor ficar perto dELE.



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GLOSSÁRIO


PANDEMIA
COROA
QUARENTENA
Fique em CASA
ISOLAMENTO
DELIVERY
NADA de abraços
SOLIDÃO
MÁSCARAS -  qual que serve?
ÀLCOOL gel - 70
HOME office
Governo NEGA
ÁTILA assusta
MORTE - muitas
REMÉDIO nenhum
NETFLIX - refúgio
Sem PÂNICO  
SEM trabalho
ABRE ou NÃO abre?
Incerteza X FÉ


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transeamus 



segunda-feira, 29 de junho de 2020

Reflexões do minhocão vazio


Instituto Central de Ciências-UnB/Foto: Mariana Costa
   Minhocão vazio... ver esta foto me impactou. 
   Olhar pra ela me fez refletir sobre o momento que estamos vivendo. É um símbolo deste tempo de pandemia e isolamento social. 
Neste lugar transitavam estudantes, pesquisadores e professores, na busca e cultivo do conhecimento, ciência, cultura e arte. Vê-lo vazio é um choque. 
   Pra quem não conhece, este é o Instituto Central de Ciências, prédio central do campus Darcy Ribeiro, da Universidade de Brasilia. É um espaço histórico da UnB. O campus cresceu muito e, hoje, tem muitos outros prédios, alguns até mais imponentes. Mas o ICC, ou minhocão, como costumamos chamar, é central, como o nome já diz, tanto do ponto de vista físico, como de identidade.
   Eu trabalho neste campus. O MUS, departamento que habito não funciona no minhocão, mas é bem perto dele. É comum passar por lá, encontrar alguém... buscar ou fazer um lanche. É caminho pro prédio da reitoria. 
   O minhocão me traz outras lembranças, foi palco da minha formação. Eu fui estudante da UnB. E tudo começa lá, principalmente, para a área de humanas. O departamento de letras fica lá. Fiz um ano de letras, antes de migrar pra música. Os ensaios do Coral da UnB eram lá, no anf. 09 (um dos muitos anfiteatros do minhocão, adaptado para apresentações artísticas). Andávamos da ala sul até o final da ala norte, depois do ensaio, para almoçar no "Natural", restaurante que ficava no subsolo. Depois, já como aluna de música, fui bolsista do Coro Sinfônico Comunitário, que também ensaiava no anf. 09. Recentemente, voltei ao anf. 09 para apresentações de Canto Coral. Agora, como professora.
   Nos primeiros dias da pandemia, quando o semestre foi suspenso, ficamos sem saber como reagir. Muitos dias de expectativa. Será que vai passar? Será que vamos voltar? Quando? A situação nos causou um tipo de "paralisia". O "fique em casa" nos colocou numa letargia estranha. Lembro que cheguei a sentir alivio, por não precisar fazer o trajeto diário de onde moro até o campus. Depois de algum tempo, este alívio se foi e não ir ao campus começou a incomodar. 
   O corpo docente manteve-se em contato. Reuniões por vídeo-conferência. Mantive contato com os alunos também, tentando estimular o estudo. Ou, às vezes, só conversando mesmo, trocando idéias e expectativas em comum. "Continuem estudando!", sempre escrevo. Músico não pode parar de estudar... Só que, sem ter o que ensaiar, como ensaiar, e sem ter aulas, estudar pra que? Tem que ter uma disciplina pessoal muito grande, para se manter ativo. A música, por ser eminentemente prática, tem características difíceis de serem adaptadas para atividades à distância e por vídeo. 
   Agora, estamos estudando, aprendendo e planejando como manter nosso trabalho em outro espaço: o virtual. Sofremos novos tipos de "insalubridade". A falta do contato físico, falta de encontros, a alta exposição a telas, que causa vista cansada e dor de cabeça. Eu sou da geração conservadora, dos que preferem a aula presencial e sentem muito a falta dela. Tenho colegas mais jovens, que já estão mais preparados para o ensino à distância. Alguns já o praticavam e acham bastante natural a adaptação. Pra mim, é difícil. Mas, vamos enfrentar e adaptar o que é possível. Porque, a busca e cultivo do conhecimento precisa continuar. Somos agentes nesta engrenagem, que precisa voltar a funcionar, mesmo a distância. 
   Na última semana, uma notícia me entristeceu grandemente: o Coro Sinfônico Comunitário da UnB encerrou suas atividades. Uma página da história da música de concerto na UnB, que se fecha. Um movimento a menos no minhocão, quando ele voltar a ser habitado. 
   O minhocão ainda vai ficar vazio por algum tempo. Mas, se Deus quiser, em breve a gente volta a andar por ele. Eu tenho esperança.
Traseamus... 
Cantemos...