Apresentação
Aqui pretendo comentar sobre coisas que vi, ouvi e vivi.
Gosto de escrever e às vezes sinto um impulso de compartilhar... Como não sei exatamento com quem, resolvi criar este espaço e deixar que pessoas acessem e leiam quando quiserem.
Pretendo também escrever e trocar idéias sobre a arte do canto. Mais especificamente do canto que interpreta a música chamada erudita.
Malú Mestrinho
(em julho/2010)
terça-feira, 3 de novembro de 2020
Dez anos de sobreCanto
quinta-feira, 15 de outubro de 2020
No dia do professor... a história de um aluno.
Conheci Eduardo no 2º semestre de 2009, em Campo Grande - MS. Ele estava iniciando o Curso de Licenciatura em Música da UFMS, e eu, recém chegada, como professora de canto da instituição. De início, foi logo me dizendo que não gostava de música erudita, queria cantar música popular. Eu não permiti. O concurso que eu havia feito era na área de canto erudito e só trabalharia com o repertório da minha área de formação. Ele, como vários outros alunos, resistiu a princípio, tanto ao repertório como à técnica. Era muito desconfiado... Um dia mandei ele deitar no chão da sala, para perceber a musculatura abdominal. "Professora, o que que vão pensar, se alguém entrar aqui e me ver deitado?..." E assim, foram vários embates, até ganhar sua confiança. Percebi que era afinado, e tinha um "vozeirão", mas o apoio era "zero", muito trabalho pela frente, para a musculatura sustentar aquela voz toda. Mas, ao contrário de outros, Eduardo era assíduo e interessado. Perguntava muito sobre tudo, queria entender as coisas. Suas aulas acabavam sendo pequenas para as dúvidas que ele tinha... e combinei que ele anotasse as dúvidas e perguntasse por e-mail. Tenho dezenas de e-mails com perguntas do Eduardo...
Além de aluno de canto, ele foi meu aluno na disciplina Técnica e Expressão Vocal, na qual montaríamos um "musical". Eu precisava de solistas e coloquei os alunos de canto "no fogo". Assim, logo no primeiro semestre, Eduardo se tornou meu solista na montagem de "O pássaro da terra" de João J. de Paes Loureiro, com canções de Waldemar Henrique. Ele foi o Caçador, personagem masculino principal. O musical foi um sucesso e a partir dali, ele percebeu que podia cantar.
Eduardo tinha potencial, e por trabalhar comigo vários dias na semana, nas aulas de canto e nos ensaios do musical, mas sobretudo por seu interesse, ele começou a se destacar. Os semestres se passaram e ele foi se desenvolvendo cada vez mais como cantor.
Em janeiro de 2011, levei-o para o 33º Curso de Verão da Escola de Música de Brasília, no qual fui professora. Este evento fez muita diferença, naquele momento, criando um referencial mais alto do que o que ele tinha antes. Eu o percebi deslumbrado em cantar num bom coro, com um repertório difícil, assistir concertos de alto nível e conviver com outros jovens estudantes, que já tocavam ou cantavam muito bem, porque estudavam muito. Voltou de lá com mais vontade de aprender e, como eu já previa, apaixonado pela música erudita. Lembro de ele me perguntar se eu achava que ele teria chance de se tornar mesmo um cantor. "Se você estudar bastante, tem toda a condição." Foi o que ele fez. Eduardo foi meu bolsista em todos os projetos que fiz na UFMS e não foram poucos... Culminando com a ópera "Dido & Eneas", na qual, ele interpretou Eneas.
Orientei o TCC e o recital de formatura de Eduardo no Curso de Licenciatura da UFMS, em julho de 2013. Em seguida, eu saí da UFMS, fui embora de Campo Grande e ele se sentiu meio "orfão". Me escrevia choroso, meio perdido, sem saber o que fazer. Eu o incentivei a ir para Goiânia fazer o Bacharelado em Canto da UFG, onde eu sabia que teria bons professores. Um tanto inseguro, ele seguiu meu conselho e foi. Passou por momentos difíceis, longe da família, mas resistiu e prosseguiu. De vez em quando, nos falávamos por e-mail, ou WhatsApp, eu na Paraíba, ele em Goiânia. Contava-me o que estava cantando, o que o professor lhe dizia. Sempre me mandava vídeos dos recitais que participava.
O tempo passou e voltei pra Brasília. Eduardo se formou, agora Bacharel em Canto. Em 2018, ele veio a Brasília com o Coro Sinfônico de Goiás, fazer uma Nona Sinfonia. Nos encontramos e ele me deu um DVD do seu recital de formatura. Eduardo é um cantor profissional, tenor concursado do Coro Sinfônico de Goiás. É um solista, que canta muito bem, além de lecionar canto numa escola técnica em Goiânia.
Sim, existe um mercado de trabalho para o cantor erudito. Sim, é possível, alguém que não teve um "berço do ouro" na música, alcançar este mercado. Olhando pra trás, tenho uma sensação gostosa de dever cumprido. Incentivei um rapaz simples, com algum potencial e muita curiosidade a estudar e vencer no mundo da música. Eu sempre gosto de ser amiga dos meus alunos, nem sempre consigo. Eduardo foi um aluno que me aceitou como amiga. Até hoje, conversamos, trocamos ideias e opiniões, agora, como colegas. Ele ainda tem um longo caminho pela frente. Que Deus abençoe Eduardo e o guie nas escolhas em sua carreira.
Eduardo Machado, interpretando "De' miei bollenti spiriti", ária da ópera "La traviata", de G. Verdi.
Valeu, Edu!
Cantemos...
quinta-feira, 23 de julho de 2020
Dois textos pandêmicos
segunda-feira, 29 de junho de 2020
Reflexões do minhocão vazio
Instituto Central de Ciências-UnB/Foto: Mariana Costa |