Malú Mestrinho

Apresentação

Olá!
Este é meu blog pessoal.

Aqui pretendo comentar sobre coisas que vi, ouvi e vivi.
Gosto de escrever e às vezes sinto um impulso de compartilhar... Como não sei exatamento com quem, resolvi criar este espaço e deixar que pessoas acessem e leiam quando quiserem.
Pretendo também escrever e trocar idéias sobre a arte do canto. Mais especificamente do canto que interpreta a música chamada erudita.

Malú Mestrinho
(em julho/2010)


segunda-feira, 29 de junho de 2020

Reflexões do minhocão vazio


Instituto Central de Ciências-UnB/Foto: Mariana Costa
   Minhocão vazio... ver esta foto me impactou. 
   Olhar pra ela me fez refletir sobre o momento que estamos vivendo. É um símbolo deste tempo de pandemia e isolamento social. 
Neste lugar transitavam estudantes, pesquisadores e professores, na busca e cultivo do conhecimento, ciência, cultura e arte. Vê-lo vazio é um choque. 
   Pra quem não conhece, este é o Instituto Central de Ciências, prédio central do campus Darcy Ribeiro, da Universidade de Brasilia. É um espaço histórico da UnB. O campus cresceu muito e, hoje, tem muitos outros prédios, alguns até mais imponentes. Mas o ICC, ou minhocão, como costumamos chamar, é central, como o nome já diz, tanto do ponto de vista físico, como de identidade.
   Eu trabalho neste campus. O MUS, departamento que habito não funciona no minhocão, mas é bem perto dele. É comum passar por lá, encontrar alguém... buscar ou fazer um lanche. É caminho pro prédio da reitoria. 
   O minhocão me traz outras lembranças, foi palco da minha formação. Eu fui estudante da UnB. E tudo começa lá, principalmente, para a área de humanas. O departamento de letras fica lá. Fiz um ano de letras, antes de migrar pra música. Os ensaios do Coral da UnB eram lá, no anf. 09 (um dos muitos anfiteatros do minhocão, adaptado para apresentações artísticas). Andávamos da ala sul até o final da ala norte, depois do ensaio, para almoçar no "Natural", restaurante que ficava no subsolo. Depois, já como aluna de música, fui bolsista do Coro Sinfônico Comunitário, que também ensaiava no anf. 09. Recentemente, voltei ao anf. 09 para apresentações de Canto Coral. Agora, como professora.
   Nos primeiros dias da pandemia, quando o semestre foi suspenso, ficamos sem saber como reagir. Muitos dias de expectativa. Será que vai passar? Será que vamos voltar? Quando? A situação nos causou um tipo de "paralisia". O "fique em casa" nos colocou numa letargia estranha. Lembro que cheguei a sentir alivio, por não precisar fazer o trajeto diário de onde moro até o campus. Depois de algum tempo, este alívio se foi e não ir ao campus começou a incomodar. 
   O corpo docente manteve-se em contato. Reuniões por vídeo-conferência. Mantive contato com os alunos também, tentando estimular o estudo. Ou, às vezes, só conversando mesmo, trocando idéias e expectativas em comum. "Continuem estudando!", sempre escrevo. Músico não pode parar de estudar... Só que, sem ter o que ensaiar, como ensaiar, e sem ter aulas, estudar pra que? Tem que ter uma disciplina pessoal muito grande, para se manter ativo. A música, por ser eminentemente prática, tem características difíceis de serem adaptadas para atividades à distância e por vídeo. 
   Agora, estamos estudando, aprendendo e planejando como manter nosso trabalho em outro espaço: o virtual. Sofremos novos tipos de "insalubridade". A falta do contato físico, falta de encontros, a alta exposição a telas, que causa vista cansada e dor de cabeça. Eu sou da geração conservadora, dos que preferem a aula presencial e sentem muito a falta dela. Tenho colegas mais jovens, que já estão mais preparados para o ensino à distância. Alguns já o praticavam e acham bastante natural a adaptação. Pra mim, é difícil. Mas, vamos enfrentar e adaptar o que é possível. Porque, a busca e cultivo do conhecimento precisa continuar. Somos agentes nesta engrenagem, que precisa voltar a funcionar, mesmo a distância. 
   Na última semana, uma notícia me entristeceu grandemente: o Coro Sinfônico Comunitário da UnB encerrou suas atividades. Uma página da história da música de concerto na UnB, que se fecha. Um movimento a menos no minhocão, quando ele voltar a ser habitado. 
   O minhocão ainda vai ficar vazio por algum tempo. Mas, se Deus quiser, em breve a gente volta a andar por ele. Eu tenho esperança.
Traseamus... 
Cantemos...