Malú Mestrinho

Apresentação

Olá!
Este é meu blog pessoal.

Aqui pretendo comentar sobre coisas que vi, ouvi e vivi.
Gosto de escrever e às vezes sinto um impulso de compartilhar... Como não sei exatamento com quem, resolvi criar este espaço e deixar que pessoas acessem e leiam quando quiserem.
Pretendo também escrever e trocar idéias sobre a arte do canto. Mais especificamente do canto que interpreta a música chamada erudita.

Malú Mestrinho
(em julho/2010)


segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Dia do músico - Dia da música - Dia de Cecília

St. Cecilia (Domenichino 1617-18)
"But oh! what art can teach,
What human voice can reach
The sacred organ's praise?
Notes inspiring holy love,
Notes that wing their heavenly ways
To mend the choirs above."
 John Dryden
A Song for St. Cecilia's Day, 1687 (*)

Escrevo sobre o 22 de novembro. Comecei no dia, mas a semana foi conturbada: joelho machucado, sem poder andar direito e cheia de atividades... só publico hoje! Quem me conhece, sabe que este dia tem muito a ver comigo, não só por eu ser musicista, mas, porque nasci nele. Gosto de dizer que nasci predestinada...
É o dia do músico em homenagem a uma mulher chamada Cecília, que viveu em Roma no século II e foi martirizada, por ser cristã. Reza a lenda que ela cantou ao morrer. Cecília cantava. Cantou em seu casamento e cantou, louvando a Deus, enquanto morria. Gosto da idéia de que ela cantava. Mas, nos vários quadros que retratam Cecília, ela sempre toca um instrumento. Em cada quadro, toca um diferente: violino, orgão, flauta... escolhi este, em que ela toca algo entre uma viola da gamba e um contrabaixo (meus conhecimentos da organologia iconográfica são insuficientes!... rs). Achei lindinho o anjo segurando a partitura...
Engraçado que só agora me interessei em saber quem foi Cecília. Antes, o preconceito de ela ser uma "santa" católica, me afastava dela. Sentia um certo incômodo em dizer que  tinha nascido no dia de uma "Santa". Hoje, a maturidade me dá a percepção de que ela era uma cristã e que isso é que importa. Ela era uma cristã que cantava, e dedicaram a ela o dia da música cristã e da música em geral. Eu ter nascido neste dia então é um privilégio!
E porque não louvar Cecília? Louvor é elogio, homenagem... Podemos elogiar, homenagear pessoas e isso agrada a Deus também. O problema é a idéia da palavra "santa", como se fosse alguém diferente, sem pecado e por isso, passar a idolotrar esta pessoa. Tenho certeza que Cecília não concordaria com isso. Lá no céu vou encontrar Cecília e vamos cantar juntas!!!
Na Escola de Música de Brasília, em 2008, preparamos com um grupo de câmara de música antiga o  oratório "Ode on St Cecília's day, 1692" (Hino ao dia de Santa Cecília), de H. Purcell. É uma obra linda e fizemos aquela música maravilhosa, com instrumentos de época. Coisas que fazíamos na Escola de Música de Brasília das quais tenho saudades... Fazíamos como parte do nosso trabalho, sem muitas vezes perceber o valor daquilo. Coincidentemente, duas Cecílias estavam tocando, fazendo o contínuo: Cecília Aprigliano, na viola da gamba e Ana Cecília Tavares, no cravo. Duas amigas minhas, lindas e excelentes musicistas:  Tenho orgulho de ter cantado ao lado delas, neste e em vários outros concertos de música barroca. Foi um concerto lindo e inusitado: tocamos no hall de um dos blocos da escola, poque não tínhamos um auditório para apresentar (!!!). Lembro que tinha gente "pendurada" nas janelas e portas para assistir. Não tivemos nem programa impresso (pelo menos, procurei aqui e não achei....). Fizemos, por pura teimosia. Preparamos por meses e tínhamos que apresentar. E foi lindo. Por um lado, acho maravilhoso momentos como este, que guardamos só na memória. Não tem registro, nem uma foto (acho...). Quem cantou e tocou lembra... e quem assistiu também.
No convívio com estas Cecílias e outros músicos "barrocos", durante anos na Banda Antiga do CEP/Escola de Música de Brasília, aprendi a interpretar melhor a música antiga. (Não que eu ache que já saiba ...)
Confesso que não era minha intenção, a princípio, mas aproveito a passagem do dia da música e da Cecília do século II, para lembrar e homenagear  as "Cecílias" de hoje, minhas amigas. Elas formam juntas o "Duo Acordes". Achei aqui links que falam um pouco do trabalho delas: 

Ave Cecília!
Hail Ciça!
Saudades...
____________

(*) O texto integral da poesia pode ser lido aqui: http://www.poetryfoundation.org/archive/poem.html?id=173449 

sábado, 6 de novembro de 2010

Stabat Mater de Pergolesi e o Grupo Vocal Feminino da UFMS

Nesta 2ª feira, dia 08 de novembro, o Grupo Vocal Feminino da UFMS estréia, apresentando o oratório STABAT MATER de G. B. Pergolesi (1710-1736), com a Orquestra Barroca de Campo Grande e a Orquestra de San Jose de Chiquitos (Bolívia), sob regência do Maestro Matias Vivot (Argentina), no Festival "Encontro com a Música Classica 2010". Teatro Glauce Rocha, 20h30.
Pergolesi tem sido homenageado em 2010, por seus 300 anos. Seu Stabat Mater é considerado sua obra prima e foi a última composta, antes de falecer precocemente aos 26 anos. É uma "pérola" do barroco, pequena e singela, cuja poesia, do século 13, descreve o sofrimento de Maria, aos pés da cruz. Faz parte da liturgia católica e foi escrito por encomenda, para variar um pouco da partitura de A. Scarlatti.
O Grupo Vocal Feminino, que ainda não tem um nome artístico (Oh céus!...), é um Projeto de Extensão, coordenado por mim no Curso de Música da UFMS. A proposta é cantar vários estilos, do popular ao erudito, principalmente música à capella, trabalhar técnica vocal para música de câmara, com independência e autonomia vocal e tonal de cada componente.
Começamos em julho, e o grupo foi se definindo por motivos diferentes. Comecei com as meninas do 3º ano (agora 4º ano), minhas alunas de canto, que queriam formar um grupo vocal. A Cinara, que já foi professora de canto do curso veio apoiar e participar. Entrou uma bolsista do 2º ano e, por falta de mezzos (pessoas raras e especiais neste mundo ... rs) convidei outra aluna e uma cantora já formada pelo curso. Ficamos com a seguinte formação:
Cinara Bacili, Karol Giglio, Lauane Ferraz, Maria Claudia Mendes e Melissa Azevedo (sopranos);
Angela Bessa, Luma Heyn, Malú Mestrinho e Marta Santos (mezzos). 

Além da Ana Lúcia Gaborim, professora do curso, que é do grupo, mas está licenciada. 



Nas fotos, sobra a Débora, que desertou e falta a Angela, nossa convidada especial, que como diz a Marta "é boa à bessa".
Ficou um grupo "redondo" e pequeno, como eu queria. Elas são lindas e queridas! As meninas cantoras do meu coração... 
Acabei por interromper a proposta de trabalho inicial, para realizar este concerto com a orquestra. O Stabat Mater é lindo! Eu já cantei várias vezes e gosto tanto, que quis fazer com o grupo, por causa do Ano Pergolesi. O mais legal foi que elas também se encantaram com a música, com o estilo barroco. Como eu, se apaixonaram pela obra. Passamos 3 meses trabalhando e nos divertindo nos ensaios de preparação. E agora vamos para o palco. Estréia... Muito bom!
Depois vamos voltar à proposta inicial. Vamos definir o nome (polêmico... !), variar o repertório, trabalhar técnica, ensaiar e cantar muito ... e muito bem! Os planos são tantos...
Aguardem-nos!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Projeto Concertos Didáticos FUNARTE - Duo de voz e violão

Eu e meu colega Marcelo Fernandes cumprimos o cronograma do Projeto Concertos Didáticos da FUNARTE, em escolas estaduais de Mato Grosso do Sul. Foram 10 escolas. Centenas de alunos nos ouviram, com atenção e interesse surpreendentes.
Privilégio... é a sensação que me vem à mente ao lembrar dos momentos em que cantei para aqueles estudantes.
Confesso que eu tinha o preconceito de que eles não iam gostar. Reflexo da idéia equivocada de que música erudita é para as elites (nem tinha noção do quanto eu acreditava nisso), o preconceito caiu por terra com a vivência neste projeto. A maioria nunca tinha ouvido o tipo de música que fizemos. E eles gostaram! Ouviram com atenção. Lembro dos rostos atentos, olhos cheios de expectativa. Alguns até marejados. Houve momentos incríveis de interação, compreensão, que extrapolam a expressão escrita.
A "Cantiga dos olhos que choram", de Frutuoso Viana, foi o ponto mais forte desta interação. Pedíamos a eles que prestassem atenção na poesia, para depois responderem à pergunta que a poesia de Guilherme de Almeida fazia. Percebia, enquanto cantava, o questionamento se movendo nas mentes, nos rostos e no espaço da sala: "Porque só os olhos choram? Porque as lágrimas moram neles só?" E era fantástico ver a expressão de vitória intelectual quando eles percebiam a resposta no verso seguinte...
O poder da música, da poesia, da arte, atingindo vidas... é maravilhoso.
Fiz dezenas de recitais didáticos na Escola de Música de Brasília. Mas, lá eram estudantes de música, numa escola de música. O clima e o significado são outros. É completamente diferente entrarmos na escola comum, que não está "preparada" para uma apresentação de música erudita e oferecermos um recital.
Gosto da palavra "oferecer" aqui. Como se fosse um presente, uma coisa boa para quem está ouvindo...
Quanto mais simples a comunidade em que a escola estava inserida, maior era  o interesse, o respeito, a atenção. É muito diferente de cantar num teatro. É tão mais vivo, mais real... Como disse o Marcelo: "É outro tipo de apresentação artística..."
Interagiamos com o ruído. Tanto os da natureza, como os urbanos. De serras elétricas e britadeiras a cantos de pássaros e chuva, passando pelos ventiladores. E é claro, sons de escola. Várias vezes o "sinal" tocou... E os meninos, obviamente, não ficaram o tempo todo quietos. Se remexiam, comentavam ... Mas, o interesse  deles se estabelecia acima disso.
Vários vinham depois conversar, comentar, perguntar...
Valeu demais!
Obrigada, Marcelo, por me convidar para fazer este projeto com você.
Agradeço a Deus esta oportunidade de aprender um jeito novo de fazer música de concerto, fora de um concerto.