Malú Mestrinho

Apresentação

Olá!
Este é meu blog pessoal.

Aqui pretendo comentar sobre coisas que vi, ouvi e vivi.
Gosto de escrever e às vezes sinto um impulso de compartilhar... Como não sei exatamento com quem, resolvi criar este espaço e deixar que pessoas acessem e leiam quando quiserem.
Pretendo também escrever e trocar idéias sobre a arte do canto. Mais especificamente do canto que interpreta a música chamada erudita.

Malú Mestrinho
(em julho/2010)


domingo, 13 de julho de 2014

Na estrada... com Manduka

Um pequeno rio na estrada Campina Grande/João Pessoa
Ontem dirigi ida e volta de Campina Grande a João Pessoa, para levar a filha ao aeroporto de João Pessoa (que não fica em João Pessoa, mas em Baieux, município vizinho).
Sempre gostei de viajar de carro, desde pequena. Viajei muito com meus pais e meu irmão. Curtia tudo do banco de trás. 

Esta estrada entre Campina e João Pessoa sempre me encanta. A paisagem enche os olhos, não tanto por coisas grandiosas, como os montes da Serra da Borborema, mas pelas pequenas: as casas simples, as fazendinhas, os pedaços de água, pequenas plantações, árvores...
Desta vez, dirigindo, não podia olhar muito para os detalhes, mas queria mostrar para a filha. Ela também se encantou. Que verde! Dá vontade de sair correndo pelo campo...

Na volta, sozinha, mesmo atenta à direção, era impossível não perceber a beleza do lugar.  De vez em quando, diminuía a marcha para ver um pouco melhor. E as cores saltam aos olhos: uma cesta de cajá amarelo-alaranjado-brilhante, pássaros brancos voando numa lagoa, o guarda-sol colorido de uma moça no campo, uma igrejinha branca. Agradeci a Deus por estar ali, por morar por aqui. E ficava imaginando as fotos que um dia minha amiga Norma Sueli vai tirar nesta estrada...

Tive a companhia da música de Manduka nesta viagem. Quando será que conseguirei ouvir este CD sem chorar? Dirigi, curtindo a paisagem (no que era possível) e cantando com o CD. "Por isso somos quem somos, estrelas de um só momento, mas cujo brilho ameaça a ordem do firmamento."; "As laranjas do vizinho estão maduras". A ordem, difícil de memorizar, das ervas do banho de cheiro da "Cunhatã dourada". O samba da Jandira que tinha o corpo da cor de goiaba. "Não fala com essa dona, que essa dona é louca." E a linda música da pátria, que sonho cantar um dia com meu filho.
Não posso discernir o quanto estas músicas são fantásticas do significado afetivo que tem para mim. Eu as ouvia em vinil na adolescência em casa, com meu irmão. Ouvi o próprio primo Manduka tocar e cantar nas reuniões de família. Se fecho os olhos, posso vê-lo cantando, sorrindo... Agora só ouço sua voz no CD.
Reli recentemente o livro da minha avó materna Maria Mitouso de Mello, "Um pouco da minha vida". E as lembranças da família afloraram intensamente. Lembranças de coisas que nem vi, mas que sei de ouvir contar tantas vezes, por minha mãe, pelas tias e pela própria avó, que é como se eu tivesse participado. A música de Manduka se juntou à nostalgia causada pelo livro e toda a subjetividade de pertencer à família extremamente musical Mitouso de Mello tomou uma dimensão enorme. E me fez  perceber como estamos ligados – eu, meu tio Gaudêncio (sobre quem tenho um texto rascunhado), Manduka e outros músicos da família. Como somos frutos das modinhas e hinos que minha avó cantava, acompanhada ao violão pelo vovô Thiago. E da musicalidade amazonense, da poesia do (tio Amadeu) Thiago de Mello. Por isso tudo somos quem somos! Família é atávico... Aprendi isso com a Tia Ritinha, outra musicista da família.
Agradeci a Deus pela família Mitouso de Mello, pelos Thiago de Mello. Por minha avó, que nos deixou um legado lindo. E pela música que herdei de todos eles.

Combinei com a filha de fazer esta viagem parando em cada lugar bonito. Levará horas. Mas, a paisagem merece.

Segue a canção "Patria amada idolatrada" de Manduka. Uma canção de exílio. É uma das minha preferidas. (Há outros vídeos dele no Youtube. Jandira, por exemplo, está lá).