Um pequeno rio na estrada Campina Grande/João Pessoa |
Ontem dirigi ida e volta de Campina Grande a João Pessoa, para levar a filha ao aeroporto de João Pessoa (que não fica em João Pessoa, mas em Baieux, município vizinho).
Sempre gostei de viajar de carro, desde pequena. Viajei muito com meus pais e meu irmão. Curtia tudo do banco de trás.
Esta estrada entre Campina e João Pessoa sempre me encanta. A paisagem enche os olhos, não tanto por coisas grandiosas, como os montes da Serra da Borborema, mas pelas pequenas: as casas simples, as fazendinhas, os pedaços de água, pequenas plantações, árvores...
Desta vez, dirigindo, não podia olhar muito para os detalhes, mas queria mostrar para a filha. Ela também se encantou. Que verde! Dá vontade de sair correndo pelo campo...
Na volta, sozinha, mesmo atenta à direção, era impossível não perceber a beleza do lugar. De vez em quando, diminuía a marcha para ver um pouco melhor. E as cores saltam aos olhos: uma cesta de cajá amarelo-alaranjado-brilhante, pássaros brancos voando numa lagoa, o guarda-sol colorido de uma moça no campo, uma igrejinha branca. Agradeci a Deus por estar ali, por morar por aqui. E ficava imaginando as fotos que um dia minha amiga Norma Sueli vai tirar nesta estrada...
Tive a companhia da música de Manduka nesta viagem. Quando será que conseguirei ouvir este CD sem chorar? Dirigi, curtindo a paisagem (no que era possível) e cantando com o CD. "Por isso somos quem somos, estrelas de um só momento, mas cujo brilho ameaça a ordem do firmamento."; "As laranjas do vizinho estão maduras". A ordem, difícil de memorizar, das ervas do banho de cheiro da "Cunhatã dourada". O samba da Jandira que tinha o corpo da cor de goiaba. "Não fala com essa dona, que essa dona é louca." E a linda música da pátria, que sonho cantar um dia com meu filho.
Não posso discernir o quanto estas músicas são fantásticas do significado afetivo que tem para mim. Eu as ouvia em vinil na adolescência em casa, com meu irmão. Ouvi o próprio primo Manduka tocar e cantar nas reuniões de família. Se fecho os olhos, posso vê-lo cantando, sorrindo... Agora só ouço sua voz no CD.
Reli recentemente o livro da minha avó materna Maria Mitouso de Mello, "Um pouco da minha vida". E as lembranças da família afloraram intensamente. Lembranças de coisas que nem vi, mas que sei de ouvir contar tantas vezes, por minha mãe, pelas tias e pela própria avó, que é como se eu tivesse participado. A música de Manduka se juntou à nostalgia causada pelo livro e toda a subjetividade de pertencer à família extremamente musical Mitouso de Mello tomou uma dimensão enorme. E me fez perceber como estamos ligados – eu, meu tio Gaudêncio (sobre quem tenho um texto rascunhado), Manduka e outros músicos da família. Como somos frutos das modinhas e hinos que minha avó cantava, acompanhada ao violão pelo vovô Thiago. E da musicalidade amazonense, da poesia do (tio Amadeu) Thiago de Mello. Por isso tudo somos quem somos! Família é atávico... Aprendi isso com a Tia Ritinha, outra musicista da família.
Agradeci a Deus pela família Mitouso de Mello, pelos Thiago de Mello. Por minha avó, que nos deixou um legado lindo. E pela música que herdei de todos eles.
Combinei com a filha de fazer esta viagem parando em cada lugar bonito. Levará horas. Mas, a paisagem merece.
Segue a canção "Patria amada idolatrada" de Manduka. Uma canção de exílio. É uma das minha preferidas. (Há outros vídeos dele no Youtube. Jandira, por exemplo, está lá).
Lindo, Malu!
ResponderExcluirTexto belíssimo...viajei junto com vc..Entre tantas fotos que fiz fiz, destaque da moça de guarda sol colorido!
ResponderExcluirMe aguarde, amiga cantora e escritora!
Beijos!