Malú Mestrinho

Apresentação

Olá!
Este é meu blog pessoal.

Aqui pretendo comentar sobre coisas que vi, ouvi e vivi.
Gosto de escrever e às vezes sinto um impulso de compartilhar... Como não sei exatamento com quem, resolvi criar este espaço e deixar que pessoas acessem e leiam quando quiserem.
Pretendo também escrever e trocar idéias sobre a arte do canto. Mais especificamente do canto que interpreta a música chamada erudita.

Malú Mestrinho
(em julho/2010)


domingo, 23 de setembro de 2012

Um pouco sobre Callas


Esta semana revi alguns vídeos de Maria Callas (1923-1977) no youtube, motivada pelos 35 anos de sua morte. Ela foi um marco e é uma referência enorme para todos nós cantores....  Pode-se dividir o canto lírico no séc. XX antes e depois de Callas. Fiquei tentando lembrar quando a ouvi, o que ouvi e estudei sobre ela...
      Acho que a primeira lembrança que tenho é da infância: meu pai ouvindo uma Lucia di Lamermoor no rádio do carro. Era a rádio MEC - AM, que ele ouve até hoje. Aquele programa que tocava a ópera inteira. Nós chegamos no lugar para onde íamos, mas ele não saiu do carro. Porque era o último ato da Lucia e era Maria Callas. Então ele tinha que ficar e ouvir até o final a cena da loucura. Que loucura! Minha mãe: "Vamos, meu bem!", mas, não houve o que o movesse. Ela, zangada, saiu do carro e meu pai ficou ouvindo. Eu não sabia quem era Callas, nem o que era canto. Naquele momento, era apenas uma cantora capaz de fazer meu pai se atrasar para um compromisso! Lembro de ouvir comentários sobre a voz dela, sobre ela com Onassis e depois sobre a morte. Eu era adolescente, estudava piano...
       Quando comecei a estudar canto, não gostava de ópera e ouvia pouco. Mas falava-se tanto, que fui atrás de ouvir. Lembro de ouvir na casa do Faustini, meu professor de canto, em vinil ainda, acho que uma Traviata. Ele comentava que ela desafinava às vezes, mas a interpretação era tão intensa, que parecia fazer parte...
       Anos depois, em 1994, recém chegada na UFU, como professora, ganhei um VHS com um concerto dela de 1959. Assisti várias vezes. Foi a primeira vez que assisti Callas. Neste concerto, me chamou a atenção ela ficar durante a abertura inteira de uma ópera no palco, um tempo enorme, e já no personagem. Que força no olhar! Que máscara facial impressionante! E não fazia "a cena" (como muitos cantores querem fazer em concerto e fica ridículo...) mas as intensões estavam todas lá.
Lembro que me impressionou a leitura da carta na ária de Macbeth e adorei Una voce poco fa. Os aplausos eram longos e ela voltava ao palco várias vezes.
    Quando vi o filme Filadélfia, fiquei curiosa para ouvir a ária La mamma morta (Andrea Chernier/Giordano) da cena famosa, onde o personagem de Tom Hanks comenta a interpretação de Callas. Eu não conhecia esta ópera e peguei emprestado um disco com Edmar Ferretti. Naquela época não era tão fácil, não havia internet, nem youtube.
      A partir daí, os CDs proliferaram e eu comecei a cantar ópera, conhecendo o seu mundo, palco, maestros, personagens, figurinos. Comprei alguns e ganhei vários CDs de Callas, com várias árias e partes de óperas. Só tenho inteira uma Tosca dela. Passei a conhecer melhor seu repertório, seu estilo, suas coloraturas e cadências. Usava exemplos em aula. Lembro de comentar numa palestra a sua interpretação da Habanera em concerto. Ela erra muito a letra, mas sua atitude é como se estivesse tudo perfeito.
Outra lembrança que tenho é da peça "Master Class" onde Marília Pera interpreta Callas. Assisti em 1996, em São Paulo. Eu estava fazendo uma ópera na época (Maria Tudor/C. Gomes). Então, todo o texto, baseado nas aulas que ela deu na Juliard, foi muito significativo e me marcou.
Depois li uma biografia dela e passei a saber detalhes da vida e carreira.
       Enfim, hoje temos a facilidade de ouvir Callas com apenas alguns cliques. É possível baixar inteiras as óperas que ela cantou. A tecnologia imortalizou sua voz, seus gestos, sua atitude no palco, que servem de exemplo numa época de confusão e deturpações do que é cantar. 
       Para quem quiser, deixo alguns vídeos do que comentei acima: 

"Nel di della vittoria" (Macbeth) - Concerto de 1959:

"Una voce poco fa" (Barbieri de Seviglia) - mesmo concerto:

Cena do filme Filadelfia:

Habanera (Carmen) - 1962, com vários erros de letra... :






Um comentário:

  1. Eh impressionante como Maria Callas ainda marca, de alguma forma, nossas vidas, nao eh, Malu? Sempre gosto da forma honesta como voce expressa sua opiniao e junta a isso a sua propria historia de vida. Saudade!
    Bjao,
    Mirella

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